Lisboa: Dom Quixote, 2003
Mario Vargas Llosa conta as histórias de Flora Tristán (1803-1844) e do seu neto, Paul Gauguin (1848-1903), que nunca conheceu. Flora Tristán foi uma feminista francesa, filha de um oficial do exército espanhol que serviu no Peru. Membro da alta sociedade francesa, abdicou dessa sua vida para combater as injustiças do mundo e tentar criar um Paraíso para todos. Gauguin deixa a sua vida de corretor de sucesso e parte para o Taiti à procura de um nova vida, de um Paraíso primitivo, que nos deixou em telas. São estas duas histórias de procura de dois sonhos - «alcançar um Paraíso onde seja possível a felicidade para os seres humanos» (contra-capa da obra) - que Vargas Llosa conta, em paralelo, no seu livro. «Onde se encontra o Paraíso? Na construção de uma sociedade igualitária ou no retorno ao mundo primitivo?»
Este livro deve ser lido acompanhado das reproduções das obras de Gauguin. Seria uma boa ideia fazer uma edição ilustrada.
«Sentia-se tranquila, com forças para enfrentar os obstáculos que lhe sairiam ao caminho. Como naquela tarde em Saint-Germain, dez anos atrás, na primeira reunião dos sansimonianos a que assistira, quando ao ouvir Prosper Enfantin a descrever o casal-messias que redimiria o mundo, prometera a si mesma, com força: "a mulher-messias serás tu".» (p. 13)
Paul Gauguin - A visão depois do sermão, 1888
«A que mãos teria ido parar A visão depois do sermão? No leilão do Hotel Drouot no domingo 22 de Fevereiro de 1891 para reunir fundos que te permitissem a primeira vinda a Taiti, A visão depois do sermão foi o quadro pelo qual se pagou cerca de 900 francos. Em que sala de jantar burguesa parisiense languesceria agora?» (p. 197)
Paul Gauguin - O feiticeiro de Hiva Oa, 1901
«Se o que Tioka dizia era exacto, O feiticeiro de Hiva Oa tinha saído mais ou menos como o conceberas, apesar de o teres pintado quase todo o tempo às cegas, com pequenos intervalos em que a luminosidade do dia, o teu voluntarioso esforço ou o deus menor compadecido te aclaravam a visão e, por uns minutos, podias corrigir pormenores, acentuar ou debilitar as cores. Às vezes, o tremor da tua mão era tão forte que tinhas que deitar-te um bocado na cama, até que o teu corpo serenasse e aqueles incontroláveis movimentos dos teus músculos cessavam. Só tinhas pintado as obras-primas nesse estado de incandescência, Kobe. Seria O feiticeiro de Hiva Oa uma obra-prima? Se os teus olhos pudessem ver a tela como devia ser, mesmo que fosse por uns segundos, sabê-lo-ias. Mas ficarias sempre com a dúvida, Kobe.» (p. 293)
5 comentários:
Li este livro quando saiu. Lembro-me de Vargas Llosa ter dado, na altura, uma entrevista magnífica na RTP (teria sido à Ana Sousa Dias?), que me levou a ler o livro. Gostei imenso do livro, não sabia da existência de Flora Tristán, mas era incómodo porque tinha de andar com um livro da Taschen sobre Gauguin para ver os quadros referidos. Pelos vistos aconteceu a toda a gente. :)
Esqueci-me de dizer que fiquei contente por ter ganho Vargas Llosa. Principalmente quando o seu "opositor" mais próximo era Cormac McCarthy de que não gosto, embora reconheça que é um grande escritor.
Não conhecia a história... porque não li o livro. Aqui fica mais um para ler, no intervalo dos outros que tenho de ler por obrigação. Obrigado e vou seguir o exemplo da Miss Tolstoi (em vez de um, levo dois)
Tem mesmo de ser como Miss Tolstoi diz. E o livro é maravilhoso.
E o prometido é devido. O livro é uma pequena maravilha!
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