O primeiro grande êxito de Pérez-Reverte.
«[...] eu já levava 20 anos como repórter, sobretudo de guerra, e começava a duvidar da minha profissão. Esse momento simbólico [em que deixei o jornalismo pela escrita de romances], pode-se dizer, aconteceu em Sarajevo. Passei três anos nos Balcãs... E vislumbrei o jornalismo que vinha aí, o mundo que vinha aí, os espectadores que vinham aí...
«E ainda nem havia internet...
«Pois não... Mas não gostei do que vi. De Madrid pediam-me para entrar em direto de Sarajevo e eu dizia "mas assim mão posso ir para a frente, fazer reportagem, quando vou trabalhar?" Respondiam "não te preocupes com isso, tens que fazer cinco diretos para os noticiários, pode ser do hotel". No outro dia diziam-me: "Hoje não é preciso mandares nada porque é dia de futebol" e eu respondia "mas houve dez mortos num mercado!". Comecei a desprezar o meu trabalho, os meus espectadores... os meus chefes. E aí pensei "tenho que deixar isto". Já não acreditava no que fazia. Mortos e mais mortos para nada, não ia mudar nada... Não queria morrer também eu por algo em que já não acreditava. Escrevi o Território Comanche, uma espécie de livro de despedida, e abandonei o jornalismo. Se tivesse continuado, hoje seria um velho repórter bêbado, em bordéis de Hong Kong ou do México, cínico, descrente, a contar a minha vida a repórteres mais jovens... Conheci muitos velhos jornalistas desses. Não queria ser mais um como eles. A literatura salvou-me.»
Arturo Pérez-Reverte, numa entrevista à Visão, 16 set. 2016
3 comentários:
Enténdoo e probablemente non exagera nada no relativo ás demandas da súa cadea( e por ende da sociedade)...., pero esperemos que a ningún reporteiro que ande polo mundo ou ningún que teña a ilusión de selo, lle inflúa a súa visión deste traballo ( e máis que nada, a que leva); porque a sociedade non pode prescindir deles. Este tema daría moito para falar...verdade?
Bo día.
"esaxera" (erro meu no comentario) :-(
Acho que ele tem uma visão lúcida sobre aquilo em que o jornalismo se está a tornar. O problema está nos donos dos jornais e televisões que hoje são, na sua grande maioria, grupos económicos que só veem cifrões. Os telejornais estão cheios de notícias voyeuristas e os temas são tratados sem qualquer respeito pelas pessoas. São poucos os jornais independentes (em Portugal, todos grandes foram comprados) e as televisões. E a carga do futebol nas televisões é algo de bradar aos céus, mesmo para quem aprecia esse jogo. O mal não é a transmissão dos jogos são os programas em que os 'intelectuais da bola' comentam os jogos durante dias...
Mas este tema tem pano para mangas...
Bom dia! Bom Ano!
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