Prosimetron
quinta-feira, 7 de maio de 2020
Poemas - 103
Carta de amor numa pandemia vírica
Gaitas-de-fole tocadas na Escócia
Tenores cantam das varandas em Itália
Os mortos não os ouvirão
E os vivos querem chorar os seus mortos em silêncio
Quem pretendem animar?
As crianças?
Mas as crianças também estão a morrer
Na minha circunstância
Posso morrer
Perguntando-me se vos irei ver de novo
Mas antes de morrer
Quero que saibam
O quanto gosto de vós
O quanto me preocupo convosco
O quanto recordo os momentos partilhados e
queridos
Momentos então
Eternidades agora
Poesia
Riso
O sol-pôr
no mar
A pena que a gaivota levou à nossa mesa
Pequeno-almoço
Botões de punho de oiro
A magnólia
O hospital
Meias, pijamas e outras coisas acauteladas
Tudo momentos então
Eternidades agora
Porque posso morrer e vós tereis de viver
Na vossa vida a esperança da minha duração
A despedida de Maria de Sousa aos seus próximos, escrito no hospital, e publicado no JL.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Gostei deste poema. Sei que Maria de Sousa editou um livro de poesia, mas nunca o li.
Ainda não vi o JL.
Bom dia!
Sereno, mas doloroso.
Subscrevo o comentário da Isabel.
Enviar um comentário