Lisboa: Imp. Nacional, 2021
O livro propriamente dito li-o há muitos anos e tenho-o. Mas ainda bem que tive acesso a esta edição porque tem uns prefácios muito elucidativos sobre a construção da tese e a sua defesa. Tem igualmente no final um conjunto de cartas de personalidades a quem Mário Soares ofereceu o livro e que lho agradeceram, fazendo algumas considerações.
O arguente da tese foi Délio Nobre Santos, um personagem meio louco, que eu ainda conheci na Faculdade de Letras. Era professor do curso de Filosofia e tinha estado uns anos em Angola (Sá da Bandeira?), de onde veio mais ou menos corrido porque dizia-se que teria promovido missas negras no estabelecimento onde ensinava.
Em julho de 1950, Mário Soares apresenta a dissertação Teófilo Braga - tentativa de determinação dos eu pensamento político, perante um júri composto por Francisco Vieira de Almeida, Matos Romão e Délio Santos.
«O momento de defesa do trabalho de Soares acaba por ser particularmente polémico. Perante a manifestação de desagrado do júri, muito possivelmente devido ao seu teor político, Mário Soares toma uma atitude radical. Tira o exemplar da mão de Délio Nobre Santos e aforma: "Vou-me embora, isto é um apouca-vergonha, não tenho nenhuma consideração por si." É o próprio que desiste de continuar a prova, ainda que houvesse quem pensasse que tinha sido reprovado. É o caso de Augusto Abelaira, presente no momento em que decorreu o episódio. "Só por razões políticas é que a chumba e jornalista.» (Pedro Marques Gomes, Teresa Clímaco Leitão, p. 39)
De uma carta de protesto que Mário Soares enviou ao então diretor da Faculdade de letras, matos Romão, em 30 jul 1950: «ão posso hoje ter dúvidas de que processos menos leais foram empregados para me levar a desistir antes da discussão da tese. V. Exa. se quiser ser justo, não se pode eximir a por em confronto o tratamento que me foi dispensado com aquele que é dado à generalidade à generalidade dos meus colegas. O certo, porém, e que V. Exa. mostrou-se incapaz de assegurar que fosse dado o tratamento igual a todos.
«nestas condições, só me restava um caminho: abandonar as provas e protestar «. abandonar as provas - porque não me presto a farsas. Protestar - para que se d«sale ao menos, a dignidade própria.» (p. 192)
Parabéns ao José Manuel dos Santos pela orientação desta coleção, que promete novidades.
Mário Soares com 21 anos, no Campo Grande.
3 comentários:
Um homem de coragem. E com visão.
Era un hombre muy carismático. A mí me caía muy bien como persona, sin preocuparme nunca de sus ideas políticas.
Boa noite
Tinha uma grande visão. Só passados meses ou anos é que víamos que Mário Soares tinha razão nas afirmações que fazia.
Quando deixou a Presidência da República dedicou-se a alertar as pessoas e os governos para a importância dos Mares e da Água, tendo sido presidente da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos e mais tarde do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água.
Bom sábado para os dois.
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