Estou a ler e a adorar este livro com a descrição de uma viagem que Julio Llamares fez por Trás-os-Montes, em agosto de 1995, sete meses após a morte de Miguel Torga.
Fui pela primeira vez a Trás-os-Montes com seis meses, de comboio. Imagino que não terá sido uma viagem fácil e como devem perceber não me lembro de nada. Depois durante 18 anos todos os anos em setembro passava uma semana nessa região do país. Só quem não conheceu Trás-os-Montes nos tempos anteriores à democracia pode dizer que nada aconteceu no Portugal profundo. Já lá voltei umas vezes depois de 1995 e as condições de vida mudaram para bastante melhor.
Olhando para aquelas terras, Llamares 'ouve' Ortega y Gasset a perguntar: «¡Esta pobre tierra de Guadalajara y Soria, esta meseta superior de Castilla!… ¿Habrá algo más pobre en el mundo?» E a resposta de Llamares é: «Sim. Trás-os-Montes, em Portugal!»
Barcelona: Penguin, D.L. 2016. (Debolsillo)
«No Café Leão [em Vinhais...], um lugar amplo e escuro onde o viajante entra para tomar a sua cerveja, dúzias de fregueses estão a jogar ás cartas, alheios á musica e ao ruído que se ouve lá fora. Ruído também fazem eles bastante, cantando cada jogada e batendo nas mesas. O viajante aguenta algum tempo - até se recompor dos 35 graus - mas, por fim, sai do café [...].»
Rebordelo.
«[...] pelas ruelas da aldeia, que o sol castiga com força, o viajante encontra homens e mulheres que conversam amavelmente á porta das suas casas enquanto os filhos jogam futebol ou andam de bicicleta. Outros, mais solitários, passeiam tranquilamente ou dormitam à sombra de alguma árvore ou protegidos pelas casas. Muitos devem ser emigrantes, mas parecem felizes por estar agora na sua aldeia. pelo menos, matam o tempo, coisa que o viajante duvida que possam fazer em França, ou na Suíça, ou na Alemanha, por mais que estes países sejam o centro do mundo e o lugar onde encontraram solução para a sua pobreza.»
Castelo de Monforte.
«O castelo, inteiramente de granito, tal como as aldeias próximas, está quase desmoronado, ams dos seus arredores, vê-se toda a várzea do Tâmega e as colinas de Trás-os-Montes praticamente até ao infinito: para o norte, as montanhas da Galiza, rotundas e ameaçadoras, quase à distância de uma pedrada; a oeste, o rio Tâmega, com Chaves nas suas margens, entre canais e hortas; para sul, as colinas de Valpaços, por onde corre o Tua, e, a este, a estrada que vai para Vinhais e Bragança e por onde chegou o viajante. Todo um mundo de cores e sons estendidos aos pés do castelo como se fosse uma toalha [...].»
Este livro ainda aqui vai voltar.
Lisboa: Difel, 1998
A tradução portuguesa está esgotada. A Quetzal bem a podia reeditar na sua col. Terra incógnita. Ou a Tinta da China na sua col. Literatura de viagens.
5 comentários:
Que bom!
Nós também estivemos por esses lugares. Mesmo tenho uma chávena de Vinhais.
Um dia inesquecível...Todavia estavamos todos.
Bom dia!
Abraço.
Ainda bem que está a gostar. Eu andei por Trás-os-Montes dois ou três anos depois de Llamazares ter feito essa viagem e encontrei muitas afinidades neste livro.
Bom dia/Boas leituras!
Obrigada e bom dia para as duas.
Debe ser interesante el libro y esa comarca de Portugal, también.
Boa tarde
Um dia tens de te aventurar pelo Douro português e para norte do rio.
Bom dia!
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