No que dia em passam 100 sobre o nascimento de Shimon Peres.
Lisboa: Dom Quixote, 2004
«Outra coisa aborrecida na política é o facto de ser muito mais difícil obter resultados à volta de uma mesa do que num campo de batalha. A doutrina do campo de batalha resume-se a isto: “Vocês serão vencidos e eu vou poder viver.” A da negociação afirma: “Eu viverei e outros também.” Uma vitória demasiado esmagadora corre o risco de levar o adversário a atos desesperados. É um ponto de vista a não esquecer numa negociação. Onde tudo é uma questão de compromissos e concessões. E as pessoas não gostam disso. Aos compromissos, elas preferem a vitória. E é assim que a política se vê entre a espada e a parede, entre a necessidade de passar ao compromisso e a hostilidade que sete compromisso encontra na opinião pública.
«É ao compromisso que a política vai buscar a sua má fama, pois este surge como uma fraqueza, até mesmo uma falta de caráter, quando, pelo contrário, é garantia de sobrevivência, uma vez que a política tem por finalidade impedir a guerra ou acabar com o conflito.
«A paz unilateral não existe. A paz só pode ser bilateral. Não há paz imposta, mas apenas paz consentida.» (p. 31-32)
«Estou intimamente convencido: não se conseguirá erradicar o terrorismo unicamente pela força. Só a modernidade, só a ciência, serão capazes de dar cabo deste flagelo. [...] Falo do terrorismo com conhecimento de causa.» (p. 59)
Lisboa: Matéria-Prima, 2018
Shimon Peres nasceu em Vishneva (então na Polónia, pertencendo hoje à Bielorrússia) a 15 de agosto de 1923, onde a família vivia há gerações. Mas os pais não viam essa terra como a sua morada permanente: «Viam-na mais como uma estação, uma de muitas paragens ao longo da estrada de milhares de anos que nos conduziria de volta à nossa pátria. A terra de Israel não era apenas o sonho dos meus pais; era o objetivo de vida que animava muitas das pessoas que conhecíamos. [...] A minha mãe, Sara, era brilhante e adorável. Tinha formação de bibliotecária e era amante da literatura russa. Poucas coisas lhe davam mais alegria do que ler, uma alegria que partilhava comigo. [...] O meu pai Yitzhak [...] era comerciante de madeira, como fora seu pai. Era caloroso, generoso, atencioso e empenhado. [...] Os meus pais criaram-me sem muitas barreiras ou limites, sem nunca me dizerem o que fazer, confiando sempre que a minha curiosidade me conduziria pelo caminho certo.» (p. 13-14)
«Com o tempo, as circunstâncias obrigaram-nos-iam a partir. No início da década de 1930 o negócio do meu pai foi destruído pelos impostos antissemitas lançados sobre as empresas judaicas.» (p. 16) O pai partiu para a Palestina e, em 1934, partem Shimon Peres, o irmão e a mãe. O resto da família ficou, com destaque para o avô rabi, a pessoa que mais influenciou Shimon Peres e que lhe disse na hora da partida: «Promete-me que serás sempre judeu.»
O que lhes aconteceu? Os nazis chegaram a Vishneva, enfiaram todos os judeus na sinagoga e deitaram-lhe fogo. Os que tinham fugido foram mais tarde metidos em comboios para os campos da morte.
«O terrorismo tem estado presente durante quase toda a minha vida. Ainda não completara dez anos quando dois judeus foram assassinados mesmo à entrada da floresta, em Vishneva. Aos quinze anos aprendi a usar uma espingarda, não para caçar, mas para defender a minha escola da insurreição violenta que aterrorizava as nossas noites.» (p. 111)
Li estes dois livros há uns tempos. Ver marcador do último aqui.
Agora estou a ler esta biografia, que me parece bem feita:
Lisboa: Caleidoscópio, 2009
8 comentários:
Semelham dois bons documentos para saber mais de política- coisa complicadíssima para mim-
Tem de ser dificil fazer coisas quando preferimos a vitória aos compromissos.
Bom dia!
Sempre estranhei que as religiões (quase todas cheias de bons princípios, entre eles a tolerância) e que supostamente deveriam unir todos os povos, sejam a causa de todas as guerras.
Claro que também há outros motivos e ganancias, mas a religião está sempre presente.
E nunca mudará, e ninguém sai de mãos limpas...
Bom feriado!
Maria Luisa,
Sim, gostei de os ler.
Maria,
Não vou discutir, mas, neste caso, eram mais as culturas.
Hoje não entendo nada do que se passa em Israel com aquele Bibi e a extrema-direita no governo. O pai Benzion Netanyahu, grande especialista de Abravanel, deve dar saltos na tumba.
E Shimon Peres também.
Bom feriado para as duas.
Claro que não, nem eu teria 'bagagem' para isso. Referia-me às guerras em geral. Houve uma altura em que li muito, mesmo muito, sobre os Judeus, que sempre admirei.
Confesso que agora estou um pouco desligada de todas as guerras, shame on me.
A propósito, já foi a Belmonte?
Fui lá inúmeras vezes, mas quando ainda não tinham os novos museus. Mas conheço a Sinagoga, bati à porta e fui muito bem recebida, apesar de não ser dia de visitas.
Bom almoço!
Até se pode e deve discutir, mas no caso israelo-palestiniano é raro chegar-se a algum sítio.
Já fui a Belmonte, mas há muitos anos. A sinagoga ainda estava 'despida'. Não sei como está agora.
Boa tarde!
Nestes dias de "impossível sair de casa" fui pesquisar. Eu já sabia que eles tinham cinco museus novos e que o castelo estava muito mais bonito, mas fiquei a saber que puseram uma estátua do José Afonso junto à casa onde ele viveu em criança. E já foi há três anos... estou mesmo fora de tudo😪
Vale muito a pena conhecer Belmonte, as vistas para a Estrela são fabulosas, mas em dias menos quentes.
Boa tarde!
Foi um homem admirável, portanto a biografia não pode ser má excepto se o biógrafo se deixou conquistar pelo biografado e desata a inferir. E alguém diz aqui que o biógrafo é bom.
Boa noite para as duas.
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