Rezo-te, na noite que os anjos obscuros
do crepúsculo mancham de culpa e remorso, ó
deus que as nuvens ocultam ! E, num intervalo
da treva, peço-te a palavra que floriu
nas primaveras, morreu nos invernos, e se gastou
nos lábios de uma antiga eternidade. Ouço-a,
no entanto, nesse canto que as estações
esqueceram: verso perene, abrigando aves
e flores, de onde os teus dedos colheram um breve
murmúrio. Mas esqueço-a nos olhos que me
fixam quando o amor se demora, entre risos,
e um silêncio súbito me revela o teu corpo.
- Nuno Júdice, AS REGRAS DA PERSPECTIVA, Quetzal Editores,1990.
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