Prosimetron
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Bocage : 15 de Setembro
Bocage e as Ninfas (óleo de Fernando Santos - Museu de Setúbal).
Bocage nasceu em Setúbal, em 15 de Setembro de 1765.
[Auto-retrato]
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saí?m dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
[Liberdade]
Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não Caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal, que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!
(In Sonetos / ed. Daniel Pires. Porto: Caixotim, 2004)
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2 comentários:
Bocage foi obrigado a alterar os versos 8 e 11 da primeira versão do soneto autobiográfico, para evitar a interferência da Real Mesa Censória. A primeira versão era diferente desta e encontra-se hoje publicada nas "Poesias eróticas, satiricas e burlescas".
Obrigado pela informação!
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