Prosimetron

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domingo, 11 de janeiro de 2009

Os meus poemas -27

BALADA DE COPACABANA

Entramos num inferninho,
Copacabana era noite,
Violão cintura breve
Zângão de nylon soltou:
Mordia seio tão leve
Que ninguém mais reparou.

- Violão três moças tem
Primas de três moços tristes:
Sabes que não tenho mãe,
Por isso não me resistes...
Mas eu não quero compaixão,
Eu não te quero para mãe!
Te quero vodca brasileira,
Cana caiana,
Flor de Copacabana!

- Vamos de inferno em inferno
violando mar e lua.
É roxa a porta de entrada:
Acende-me o cabelo!
Anuncia-me nua!

- Copacabana tingida
Nos rebanhos da manhã
Dou-te a flauta de bambu
Para que brinques:
Canta de argola no pulso
Ao som dos drinques:
No vidro avulso!

Duas horas! Duas horas!
Duas horas da manhã!
Quatro cobras te desvestem,
Delas três te acharam sápida
como perninha de rã,
A outra te dio la gana
E em ti virou gargantilha:
Eva Copacabana,
Serpente de Droga Rápida
Te trata como uma filha.

Saiamos desta inferneira,
Que já alva é sangue ao mar
E à lua nova cornos nasceram.
Dizei -me devagarinho,
Mesas de pernas para o ar,
Quantos e quais se arrependeram?

Vitorino Nemésio
(1901 -1978)

3 comentários:

Anónimo disse...

Gosto muito de Vitorino Nemésio mas não conhecia este poema. Obrigada. Parece que o estou a ver sentado a declamá-lo.
A.R.

Anónimo disse...

Vivamos Copabana! Se bem me lembro... Abraço, JPS

Miss Tolstoi disse...

Gosto da poesia do Nemésio, mas não dele a dizer poesia.