QUEM MUITO VIU...
Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado e foi
privado em extremo da justiça justa;
e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos;e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi -
não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.
Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.
Jorge de Sena
(1919 -1978)
5 comentários:
Um dos grandes da poesia portuguesa, e não fora o esmagador Pessoa mais relevo lhe teria sido dado.Grande poeta, grande ensaísta, grande ficcionista.Volto muitas vezes às fantásticas antologias poéticas que organizou e que me iniciaram no mundo da poesia.
Gosto muito de Jorge de Sena. Este soneto revela bem a sua dimensão humana e a luta pela justiça social, pela liberdade e pela fraternidade.
A.R.
Um dos meus poetas.
M.
Caro João Mattos e Silva- tenho apreciado as suas escolhas de poemas, e já agora também lhe digo que até conheço alguns da sua lavra e gostei deles. Votos de Bom Ano.
Muito obrigado ao anónimo leitor de poemas meus.Mas não cabem nesta escolha, que pretende ser de poetas maiores.
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