Prosimetron

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Os meus poemas -28

QUEM MUITO VIU...


Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas;
e foi traído, e foi roubado e foi
privado em extremo da justiça justa;

e andou terras e gentes, conheceu
os mundos e submundos;e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi -

não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como a todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.

Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.

Jorge de Sena
(1919 -1978)

5 comentários:

LUIS BARATA disse...

Um dos grandes da poesia portuguesa, e não fora o esmagador Pessoa mais relevo lhe teria sido dado.Grande poeta, grande ensaísta, grande ficcionista.Volto muitas vezes às fantásticas antologias poéticas que organizou e que me iniciaram no mundo da poesia.

Anónimo disse...

Gosto muito de Jorge de Sena. Este soneto revela bem a sua dimensão humana e a luta pela justiça social, pela liberdade e pela fraternidade.
A.R.

Anónimo disse...

Um dos meus poetas.
M.

Anónimo disse...

Caro João Mattos e Silva- tenho apreciado as suas escolhas de poemas, e já agora também lhe digo que até conheço alguns da sua lavra e gostei deles. Votos de Bom Ano.

João Mattos e Silva disse...

Muito obrigado ao anónimo leitor de poemas meus.Mas não cabem nesta escolha, que pretende ser de poetas maiores.