Prosimetron
segunda-feira, 25 de maio de 2009
ONDE CORRIAM OUTRORA AS ÁGUAS DA TUA FACE
Caitlin e Dylan Thomas.
Onde corriam outrora as águas da tua face
para as minhas hélices, chega o sopro árido do espírito
e os mortos entreabrem os seus olhos;
onde outrora os tritões através do teu gelo
erguiam os cabelos, o árido vento navega
através do sol, ovos de peixes e raízes.
Onde outrora os teus verdes nós mergulharam
as extremidades na corda trazida pelas marés,
eis que aparece o verde ceifeiro
com as suas tesouras oleadas e uma lâmina suspensa
para cortar os braços do mar na sua origem
e deixar cair os húmidos frutos.
O rumor das tuas marés invisíveis
rompe sobre as camas nupciais das algas;
perderam as algas do amor a sua frescura,
e, à volta das tuas pedras, ali caminham
as sombras de crianças que a partir da sua ausência
choram para um mar de delfins.
Áridas como um túmulo, as tuas coloridas pálpebras
não poderão fechar-se enquanto desliza a magia
com solenidade sobre os céus e a terra;
à volta do teu leito haverá corais
e ao longo das tuas marés nascerão serpentes,
até que morra a nossa crença do mar.
Dylan Thomas
In: A mão ao assinar este papel / trad. Fernando Guimarães. Lisboa: Assírio & Alvim, 1989
Depois de ter visto No Limite do Amor.
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6 comentários:
O poema é muito bonito.
J
Vi o trailer do filme, mas ainda não me decidi a ir vê-lo.
Não é fantástico, mas gostei.
Parece-me ser um dos tais casos em que é melhor ficarmos pelo conhecimento da poesia - que é belíssima.
Mas eu não sei nada da vida dele...
O tal a quem Bob Dylan "roubou" o apelido. Bela homenagem a um grande poeta!
Já fui ver o filme e gostei de ver. Do filme ressalta que como amigo não valia nenhum...
Sim, muitas vezes, é melhor lermos apenas a obra.
Melhor dizendo: Bob Dylan "roubou" o nome próprio que transformou em apelido.
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