Uma onda de consternação atravessa a Alemanha Ocidental: o semanário Stern publica o artigo “Wir haben abgetrieben” (trad. abortámos), em que 374 mulheres confessam ter voluntariamente interrompido a gravidez – entre elas, nomes conhecidos como os das actrizes Romy Schneider e Senta Berger, mas também mulheres anónimas de todas as camadas sociais. Alice Schwarzer, defensora incontornável da causa feminista alemã, lidera esta iniciativa e exige a anulação do § 218 do Código Penal que penaliza o aborto. Segue-se um debate público, profundamente dividido entre as opiniões a favor e contra a despenalização: os slogans dos diferentes quadrantes vão desde A minha barriga só a mim pertence a Aborto é homicídio. A coligação entre os sociais-democratas e o partido neo-liberal viria a reformar o código três anos mais tarde. Tal reforma viria, no entanto, a ser chumbada pelo Tribunal Constitucional (Bundesverfassungsgericht).
O Prémio Nobel da Paz de 1971 é atribuído a Willy Brandt. O comité norueguês distingue o chanceler alemão com o prémio “por pôr em prática a 'Ostpolitik', na República Federal da Alemanha, que estabeleceu uma nova atitude em relação aos países de leste, e, em especial, à República Democrática Alemã" . Já durante o seu cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, Brandt iniciara a reconciliação com os vizinhos de leste. Levara a cabo os tratados com a União Soviética, a RDA e a Checoslováquia, assinados em anos anteriores, o que viria a atenuar a tensão da Guerra Fria. Símbolo mais emblemático deste empenho fora a visita de Brandt ao monumento às vítimas do Ghetto de Varsóvia um ano antes. A política de “normalização” (Entspannungspolitik) sob a iniciativa de Brandt viria a marcar o fio condutor da política externa da Alemanha Ocidental durante toda a década.
“Se no balanço da minha actuação constar que eu ajudei a abrir caminho para um novo senso de realidade na Alemanha, então eu terei cumprido uma das esperanças da minha vida", assim discursa Brandt na cerimónia oficial em Oslo.
“Se no balanço da minha actuação constar que eu ajudei a abrir caminho para um novo senso de realidade na Alemanha, então eu terei cumprido uma das esperanças da minha vida", assim discursa Brandt na cerimónia oficial em Oslo.
Imagens: capa do semanário Stern; Brandt ao receber o Prémio Nobel da Paz
1 comentário:
“Se no balanço da minha actuação constar que eu ajudei a abrir caminho para um novo senso de realidade na Alemanha, então eu terei cumprido uma das esperanças da minha vida"
Uma boa memória!
A.R.
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