O Desafio era para continuar perguntando de quem era este texto?
"Um dia no espírito de Saul abriu-se uma grande zona obscura e concebeu o propósito de aniquilar David. Ordenou que David fosse para a guerra, à frente de um pequeno exército contra um inimigo muito difícil. Mas David voltou vitorioso e Saul desesperou. Ordenou-lhe ainda que combatesse no mar num dia de perigosa tempestade. E David voltou tendo abatido o inimigo. Saul, possuido já de uma grande tristeza, pagou a uma escolta para assassinar David enquanto este dormia. Mas como nessa altura David já tinha conseguido o seu leve entendimento com o Divino, uma vez mais abateu a escolta assassina. Por fim, Saul procurou-o e levantou a lança para o ferir. David parou o golpe e montando no seu cavalo mergulhou o seu corpo num rio.
Durante muito tempo não mais se viram, e Saul não deixou de desejar intensamente a morte de David. Erraram por sítios diversos do mundo, Saul com o seu desespero, David com o Sopro da Poesia."
A resposta fica já dada, com o nome completo do seu autor:
Arquiduque Alexis-Christian Von Rätselhaft und Gribskov, Grão-Príncipe do Saxe (tradução de M. S. Lourenço)
Doge, Lisboa: Livraria Morais Editora, 1962, p. 82-83.
8 comentários:
Carta de Nuno Bragança a M. S. Lourenço e Manuela Lourenço, Ms. Lisboa, 7 de Dezembro de 1962:
Falava-se do Doge. Alguém perguntou (referindo-se ao autor): “Mas qual é a ideia desse homem?” Então eu disse: “A ideia dele é que ele é uma alma de lobo d’álsácia”. [...] Este vosso humílimo primo afastado por motivos políticos encontrou um pouco conhecido trecho de Fernando Pessoa dedicado à obra de António Botto [...]. Ora o trecho em causa revelou aos olhos espantados desta vossa mosca de criado que não só escritor M. S. Lourenço tem raízes em Pessoa como quase vice-versaente, ou seja: que o trecho a seguir transcrito podia ser um comentário crítico rigorosíssimo a O Doge. Eis 3 citações: “Este poeta, como todos os espíritos interessantes, segue a tradição principalmente em afastar-se dela, que antes de começar também não existia” | “Distingue-se esta arte pela simplicidade perversa e pela preocupação estética destituída de preocupações [...]” | “Certo é que o que (este autor) escreve... há que ser lido sempre com a atenção posta em o que não está lá escrito. Pode também ser lido com a atenção posta em o que está lá escrito. De qualquer das formas se é leitor”.
Faltou, no comentário anterior, dizer que esta carta figurou na Exposição O sopro sopra onde quer que a BNP dedicou a M. S. Lourenço. Está publicada no catálogo, com o n.º 40
Sendo minha a culpa da decifração do mistério (aliás,involuntária;e para citar Jô Soares:"desculpe-se a ignorância do macaco.),creio que se tinha chegado a um beco sem saída: os que sabiam,calavam /os que não sabiam ou desistiam,ou ficavam às aranhas...
Renovo,porém,as minhas desculpas.
Mesmo que o presente texto me não motive,particularmente,nenhum comentário,a figura e o nome de Nuno de Bragança (figura moderna do protótipo de "pena e espada",como foram Camões ou Francisco de Aldana)é-me afeiçoado.
Se tiver algo de útil a dizer,voltarei ao post,com gosto.
Alberto Soares
Estava a formar-se um "grupo de iniciados"... Queriamos ver se o JP encontrava as armas... fica confessado o desejo
E eu tinha, como a M.R. já salientou em comentário, a solução no meu correio electrónico a propósito de uma visita guiada que infelizmente não pude fazer. Mas a minha memória começa a estar como a do outro...em farrapos!
De salientar que na segunda edição, a da Fenda que é a que tenho, do Doge, o Arquiduque "suaviza" o nome e a titulatura mas adensa o mistério: M.S. Lourenço não aparece como "tradutor".
Peço desculpa por "voltar à carga" mas o texto escolhido também não era grande ajuda. Para ajudar mesmo teria sido mais útil um daqueles em que o arquiduque Alexis fala sobre a sua família ou sobre o imperador, algo que desse contexto biográfico ao autor/personagem.Sinceramente, este tanto podia ser do Alexis von Gribskoff como do Orígenes :)
O texto não era para ajudar a chegar ao Príncipe... era para colocar alguma poeira... Saul e David... temas da Bíblia, numa época em que tanto se fala da Bília, por causa de Caim
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