Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento…
Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado…
Pára e fica e demora-se um momento.
Pára e fica na doida correria…
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria.
Um olhar de aço que essa noite explora…
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.
Ângelo de Lima
(Líricas Portuguesas, selecção, prefácio e notas de Cabral do Nascimento, Lisboa, Portugália Editora, 1945)
P.P dia 1 de Março, 17:25
Miss Tolstoi enviou-me uma outra versão do mesmo poema. Obrigado.
Aqui fica, para confronto:
Pára-me de repente o Pensamento...
- Como que de repente refreado
Na Douda Correria... em que, levado...
- Anda em Busca... da Paz... do Esquecimento
- Pára Surpreso... Escrutador... Atento
Como pára... um Cavalo Alucinado
Ante um Abismo... ante seus pés rasgado…
- Pára... e Fica... e Demora-se um Momento...
Vem trazido na Douda Correria
Pára à beira do Abismo e se demora
E Mergulha na Noute, Escura e Fria
Um Olhar d'Aço que essa Noute explora…
- Mas a Espora da dor seu flanco estria...
- E Ele Galga... e Prossegue... sob a Espora!
(Poesias completas, Lisboa, Assírio & Alvim, 1991, p. 52. Org., pref. e notas de Fernando Guimarães.)
5 comentários:
A pergunta do título é de Almada Negreiros. Foi tirada do post de ontem.
Gosto da poesia de Ângelo de Lima. Fui ao livro e escolhi logo o segundo:
Eu ontem vi-te…
Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno a mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse,
Fulgor assim.
Ângelo de Lima
Mais rápido não há. Já agora digo que até prefiro a "versão" do Cabral do Nascimento, mas a do Fernando Guimarães deve ser mais fiável.
Versão ou transcrição, não sei como dizer.
Enviar um comentário