Não confirmei, mas é provável que esta célebre tela de Magritte ( ou outra das versões existentes, a de Nova Iorque ou a de Bruxelas ) já aqui tenha aparecido. Mas trazê-la hoje fazia todo o sentido:
Quando tu morreste, as árvores verdes continuaram a bailar na janela do teu quarto de hospital, pequenas luzes na noite gélida.
As asas do desejo, naquele momento irrepetível, podiam transportar-nos para o Guggenheim em Veneza, onde ficaríamos imóveis na contemplação infinita de « O Império das Luzes » de Magritte. Imagino-nos ali presos pela inquietação desta composição, onde a luz e o espírito se sobrepõem paradoxalmente à forma e à materialidade das coisas, como sempre aconteceu contigo, numa vida de insaciável busca de conhecimento, de coragem e de afirmação, que te fazia desprezar a vulgaridade, a cobardia ou o medo.
Quando soubeste da doença grave, disseste-me naturalmente, pelo telefone: « Tenho um carcinoma gástrico. Sempre enfrentámos a vida com coragem e é o que vamos continuar a fazer agora. »
(...)
Estes são os dois primeiros parágrafos do belo texto que Maria José Morgado escreveu na morte do seu marido, José Luís Saldanha Sanches ( Quando Tu Morreste, in José Luís Saldanha Sanches, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2010 ).
Eu guardo a memória de um competente e simpático ( o que não era coisa pouca, no meio dos sisudos mestres da Faculdade de Direito de Lisboa nos finais da década de 80 ) professor e, mais tarde, de um cidadão corajoso e empenhado.
2 comentários:
Bonito texto sobre um tipo porreiro.
Subscrevo.
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