" Quem chega a Olímpia, no Peloponeso, avista uma paisagem muito amena, com árvores e flores, situada entre o Monte Krónion e a confluência dos rios Alfeu e Cládeos. Por todo o lado, restos ainda imponentes de muitos edifícios, que o Instituto Arqueológico Alemão desde 1975 tem recuperado: o Templo de Zeus. com uma coluna solitária que dá ideia da sua passada grandeza, e,preciosamente guardadas no museu, as decorações dos pedimentos e das métopas que o adornavam; o de Hera, que lhe é anterior;o Ginásio, a Palestra, o Estádio. A tudo isto há que acrescentar 1300 estátuas, moedas sem conta, inscrições, objectos de ouro e de bronze. E-não o esqueçamos-a oficina onde Fídias modelou a perdida estátua monumental de Zeus, uma das sete maravilhas do mundo, com a tocante recordação da caneca por onde bebia, na qual brilha ainda a marca da pertença - Pheidio eimi.
Tão numerosas eram as estátuas de deuses ( como o Hermes de Praxíteles ) ou de homens, como de muitos dos atletas vencedores dos jogos, que a lista destes últimos ocupa mais de metade do Livro VI da Descrição da Grécia por Pausânias.
É neste lugar privilegiado que hoje se acende a chama olímpica, para logo seguir para Atenas e daí para o país que nesse ano vai celebrar os jogos. Esse trajeto faz-se, não só nas mãos de corredores que se revezam, como por barco ou mesmo de avião. Isto desde 1936. Quarenta anos antes, já o Barão de Coubertin tinha conseguido que os modernos Jogos Olímpicos se tivessem realizado em Atenas, no Estádio Panatenaico, com a participação de 13 países. E têm continuado a celebrar-se até hoje, com exceção dos anos das Grandes Guerras.
(...) Note-se um facto muito significativo, que define o espírito olímpico, é que a partir do século IV a.C., as vitórias nos Jogos perdem o seu prestígio, pelo facto de neles começarem a competir profissionais. Efetivamente, o esplendor da vitória decorria sobretudo da honra que ela proporcionava ao laureado, e não de qualquer vantagem material. Testemunho inesquecível desta mentalidade é um passo célebre de Heródoto ( VIII.26 ), que documenta esta atitude e, ao mesmo tempo, a prática de prosseguir as competições olímpicas, mesmo com o inimigo no território (...) "
- Maria Helena da Rocha Pereira, A herança grega.( Um dos artigos que compõem o tema da presente edição do Jornal de Letras, os Jogos Olímpicos. Fica para amanhã um excerto do texto belíssimo de Hélia Correia, sendo certo que vale a pena comprar, ler e guardar esta edição ).
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