Trad. Lúcia Liba Mucznik.
Porto: Asa, 2004
Um Gato
Não longe do mar. na rua Amirim,
mora o senhor Albert Danon, sozinho.
É um apreciador de azeitonas e de queijo feta,
homem doce, consultor fiscal de profissão.
Uma manhã, não há muito,
a mulher Nadia morreu de cancro dos ovários.
Deixou vestidos, um toucador, napperons bordados
com linhas finas. O filho único, Enrico Davis,
foi escalar os cumes do Tibete.
Em Bat-Yam é manhã de Verão quente e húmida,
mas sobre aquelas montanhas cai a noite.
Um nevoeiro baixo rasteja nas ravinas. Como vivo,
um vento cortante uiva e a luz que enfraquece
parece-se cada vez mais com um sonho mau.
Aqui o caminho divide-se em dois,
um é íngreme e o outro é suave.
No mapa não há menção da bifurcação,
e como a tarde vai escurecendo cada vez mais e o vento sopra
em rajadas de granizo, Rico tem de escolheu por intuição
entre descer pelo caminho estreito ou pelo mais fácil.
Assim como assim, o senhor Danon vai levantar-se agora
e desligar o computador. Vai por-se
à janela. Lá fora n quintal
está um gato em cima do muro. Viu um lagarto. Não o vai largar.
Amos Oz
Para a Ana.
2 comentários:
Muito obrigada, MR.
O poema é maravilhoso. :)
Beijinho. :)
Lindo marcador!
Enviar um comentário