Prosimetron

Prosimetron

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Camões e a tença


Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.

Sophia de Mello Breyner Andresen

3 comentários:

APS disse...

E já agora, porque não reler essa obra-prima de Sena: "Super flumina...", em prosa de excepção.
Bom dia!

MR disse...

Parece-me uma boa ideia. :)

ana disse...

Fantástico. Não conhecia este poema de SMBA
Bom dia!:)