Árvore, Hermitage, Amesterdão
Nascimento último
Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
António Ramos Rosa, No Calcanhar do Vento - 1987, in Antologia Poética
Selecção de Ana Paula Coutinho Mendes
4 comentários:
António Ramos Rosa, um nome, um poeta a ser sempre lembrado e lido, muito lido!
Um beijinho.:))
Este NASCIMENTO ÚLTIMO foi um dosque li esta tarde, Cláudia !
Muito bem escolhido, Ana !
Pág. 246 da Antologia que na semana passada tinha encomendado à Cláudia.
Beijos para as duas.
Cláudia,
Pois é. Só tenho um livro de poesia dele de 1980. Mas tenho lido em suporte digital e na biblioteca.
Beijinho. :))
João,
Estávamos a escrever em simultâneo.
Boa encomenda.
Beijinho. :))
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