A tômbola anda depressa,
Nem sei quando irá parar -
Aonde, pouco me importa;
O importante é que pare...
- A minha vida não cessa
De ser sempre a mesma porta
Eternamente a abanar...
Abriu-se agora o salão
Onde há gente a conversar.
Entrei sem hesitação -
Somente o que se vai dar?
A meio da reunião,
Pela certa disparato,
Volvo a mim a todo o pano:
Às cambalhotas desato,
E salto sobre o piano...
- Vai ser bonita a função!
Esfrangalho as partituras,
Quebro toda a caqueirada,
Arrebento à gargalhada,
E fujo pelo saguão...
Meses depois, as gazetas
Darão críticas completas,
Indecentes e patetas,
Da minha última obra...
E eu - prà cama outra vez,
Curtindo febre e revés,
Tocado de Estrela e Cobra...
Mário de Sá-Carneiro
(Publicado há 100 anos no Portugal Futurista.)
1 comentário:
Um poema certeiro dos dias que também temos de tudo ao contrário e que são sempre o mesmo.
Enviar um comentário