Não é só gostar dos italianos: eu
seria incapaz de gostar de alguém
que não tivesse uma grande
ternura pelos italianos.
É um alívio que o coronavírus
esteja a abrandar na Itália.
Comoveu-me o cuidado que os
italianos tiveram — até os mais
aflitos — de avisar os outros países,
instigando-os a proteger-se mais
cedo do que eles puderam. É por isso que me
envergonha que os italianos tenham pedido
ajuda e que não a tivéssemos dado quando
mais precisavam.
Tudo isto da solidariedade e da entreajuda
é mais antiga do que a conversa dos coronabonds. Não é só a União Europeia
que está em causa: é a Europa. Nem é só
simpatia e admiração. Aprendemos muito
com os italianos, tanto no pretérito como no
presente do verbo.
Foi a Itália que assustou Portugal. Os nossos
médicos identificam-se com os italianos. Há
até um certo complexo de inferioridade na
questão — mas quem não é inferior aos
italianos? E haverá maiores peritos em
complexo de inferioridade do que nós
portugueses?
Pensámos: «Se é este inferno em Itália,
imagine-se o que vai ser em Portugal. Sendo
eles mais ricos, populosos e experientes do
que nós, a nossa única maneira inteligente de
reagir é fazer como eles fazem, com a
vantagem de estarmos mais atrasados na
pandemia.»
Assim fizemos, porventura com o zelo
acrescido do bom aluno. Nunca percebi qual
era a vergonha de ser bom aluno. Vergonha é não reconhecer e não agradecer os bons
professores que se teve.
Ainda bem que não caímos na asneira de
tentar uma via original para o coronavírus,
daquelas «bem portuguesas».
Miguel Esteves Cardoso
Público, 1 abr. 2010
4 comentários:
Ora aqui está uma crónica que eu subscrevo e até julgo ser capaz de escrever. De certeza sem a habilidade literário do Miguel Esteves Cardoso que até já me roubou parte do post de hoje (mas faz de conta que não sei e pronto).
estou contente pela Itália.
Vamos lá a ver o que aconteceu ontem. Esperemos que esteja a estabilizar.
Bom dia!
O texto do MEC é excelente e saúdo a partilha, especialmente depois de ter recebido um mail assinado pelo Director do "Expresso" e subscrito por diversos directores dos restantes órgãos de informação.
Estes cavalheiros criadores do "Nónio" revelam-se como tristes personagens de um mundo que mudou na passagem do milénio e 20 anos depois ainda não perceberam,.
A partilha de hoje em dia corresponde aos empréstimos do século passado em que o jornal e os livros passavam por diversas mãos e ninguém era preso, excepto no tempo do fascismo em que se era preso por se ter um livro ou um jornal.
Peço desculpa pelo desabafo:-)
Muito boa tarde!
Não li esse email, mas imagino que tenha a ver com a partilha de jornais na net. Realmente é um pouco como os jornais que as pessoas iam ler aos cafés e ainda vão ler às bibliotecas.
Se o teor do abaixo-assinado for o que penso, escolheram um altura inapropriada para o fazer.
Bom dia!
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