Lisboa: Dom Quixote, 2006
«De caneta em punho, joguei ao lado de Figo, de Deco, de Rui Costa, de Ronaldo. Defendi, com Ricardo, sem luvas, o último pontapé dos ingleses e, com ele, corri para a bola e marquei o golo que desempatou e mandou os ingleses de volta para a sua ilha. Na final, confesso, senti-me mais no banco do que em campo. Creio que houve um excesso de mobilização, de tensão, de barcos, de motos, de buzinas. Os gregos cantavam a plenos pulmões e os portugueses estavam cansados, tinham a boca seca ou um nó na garganta. E eu no banco, ao lado de Rui Costa e Nuno Gomes que Scolari, inexplicavelmente, não fez alinhar de início. Fartei-me de avisar que era preciso cuidado com os cantos. Em vão. Os gregos marcaram, como já tinham feito à França e aos checos.
«Fosse como fosse, meio século depois dos golos marcados no Largo do Botaréu, em Águeda, eu tinha chegado pela prosa a um campeonato da Europa de futebol.» (Do prefácio)
«[...] a 30 de janeiro de 38, antes de se iniciar um Portugal-Espanha, alguns jogadores da seleção portuguesa recusaram-se a fazer a saudação fascista. Azevedo, do Sporting, encolheu os dedos, Quaresma, do Belenenses, ficou em sentido, Simões e Amaro, também do Belenenses, ergueram os punhos, tendo sido presos pela polícia política para interrogatório. Estava-se em plena guerra civil de Espanha, foi um ato de grande coragem e simbolismo.» (p. 16)
Um livro de crónicas que Manuel Alegre escreveu para os jornais Público e El Pais. Vale a pena lê-las. Não são apenas sobre futebol; são sobre a vida, como o título diz.
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
Futebol se joga na rua,
Futebol se joga na alma.
Carlos Drummond de Andrade
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