Paris: Calmann-Lévy, 2023
Estou a ler as memórias de Donna Leon, que faz hoje 82 anos. Não posso dizer que até agora sejam muito empolgantes. Fala da infância e juventude, de como a mãe, uma grande leitora, lhe passou o gosto pela leitura; dos quatro anos que passou no Irão (onde assistiu à Revolução), na China e na Arábia Saudita, como professora. Neste país, onde permaneceu nove meses, imaginou um jogo estilo Monopólio, «$audiopoly», a que dedica um capítulo. Um jogo delirante para se entreter com amigos.
Destes países com ditaduras, precisava de 'ar fresco' e rumou a Itália, onde viveu muitos anos.
Donna Leon descreve a emoção que teve a primeira vez que assistiu a uma ópera, Tosca: «Essas três horas mudaram a minha vida. Eu sei que isto pode parecer melodramático, mas é verdade. Foquei viciada e fui muitas vezes ouvir, nos vinte anos seguintes, os grandes cantores da minha época: Scotto, Pavarotti, Caballé, Domingo, Price, Sills, Olivero (sim, Magda Olivero - v-a nos seus primórdios no Met, com 65 anos. No papel de Tosca.) Sem esquecer Nilsson, Di Stefano, Del Monaco, Corelli, Gobbi, Christoff.
«De certa forma, esses anos provocaram a minha ruiana porque faço agora parte desses velhotes que, quando ouvem os grandes cantores contemporâneos, murmuram coisas polidas como "Sim, sim, claro", mas lembro-me como as pessoas vibravam quando ouviam Nilsson cantar Turandot e como estavam no sétimo céu quando Leontyne Price cantava espirituais.
«Ou quando Zinka Milanov cantava Tosca.» (p. 58-59)
3 comentários:
Parabéns a Donna Leon!
Uma escritora que nunca li, nem sei bem porquê, nunca calhou...
Espero que o livro fique mais empolgante para o fim.
Sábado feliz!📚
É mais uma aniversariante com poucos anos de vida. Mas ela o sabe e decerto o dirá ao longo da obra. Confesso que só ouvi falar dela aqui e já por várias vezes, julgo. Nunca a li e talvez não a venha a ler. Paciência. Não se pode ler tudo:)
Bom sábado
O livro é mediano, mas se não o tivesse lido ficaria sempre a pensar que tinha perdido algo muito bom.
«Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.» (Almada Negreiros)
Bom dia para a Maria e para o Anónimo.
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