O PASSADO RETIDO
O leito deixarei como o deixou, desfeito e alterado,
revoltos os lençóis, para que a forma do seu corpo fique
ainda gravada junto ao meu.
Até amanhã não irei banhar-me, não me hei-de
vestir nem no cabelo hei-de tocar com medo que se
sumam as carícias.
Hoje de manhã não comerei, nem esta noite, e
sobre meus lábios não porei carmim nem pó, para que
seu beijo em mim possa perdurar.
Deixarei fechados os postigos e não abrirei a porta
a ninguém, com medo que a lembrança que ficou se não
desvaneça com a brisa.
- Pierre Louys, AS CANÇÕES DE BILITIS , trad.port. Júlio Henriques, Fora do Texto, 1990,76
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