Prosimetron

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sábado, 28 de março de 2009

Uma polémica sobre política cultural?

“Num artigo amplamente divulgado, Manuel Maria Carrilho ataca a política cultural do actual Governo, pondo ênfase no que considera serem as duas prioridades:”Um orçamento capaz” e “uma administração eficaz”. Independentemente do que se possa pensar do que foi a sua actuação como Ministro da Cultura do 1º Governo de Guterres, esta avaliação das políticas da Cultura está claramente desfocada.
…Sempre defendi que uma política de Cultura séria devia centrar-se na formação de uma massa crítica de consumidores informados e com espírito crítico, atendendo a que o nosso défice não é de artistas mas de leitores, espectadores e ouvintes…E como os artistas têm um acesso privilegiado aos media e nenhum PM quer compara uma guerra na Cultura, nenhuma reformo estrutural é feita porque ninguém quer tocar nos direitos adquiridos. E o público, que devia ser o primeiro consultado e o primeiro beneficiário das políticas da cultura, sente-se cada vez mais afastado das obras que o Estado subsidia, cuja pertinência e qualidade ninguém escrutina, a não ser meia dúzia de críticos dos jornais que os políticos lêem….
…Ninguém se lembraria de propor que o objecto da política da Saúde sejam os médicos em vez dos doentes….Porque não alargar a ideia de ‘utente’ à área da Cultura?”
António - Pedro Vasconcelos
semanário "Sol", 27.3.2009
Há muito que defendo, e já o escrevi, que a política cultural do Estado está errada e padece, como muitos outros sectores, de uma concepção de Estado interventor por via do subsídio, que cria fidelidades e conivências. Há muito que defendo que a principal política do Estado na área da Cultura, deve ser na preservação do património histórico e artístico, no apoio à formação de pessoas com potencialidades em vários domínios da criação, nomeadamente através de bolsas de estudo - escrutinadas por pessoas independentes do poder político - e no apoio aos artistas já afirmados pelas suas obras, através da aquisição dessas obras ou da sua difusão junto do público.
Subsidiar artistas plásticos, escritores, compositores, companhias de teatro ou realizadores de cinema para produzirem obras, com critérios mais ou menos obscuros, que a maioria não aprecia, a ninguém interessa ler ou ouvir ou revelam salas de espectáculo às moscas, é criar uma falsa ideia de cultura de que o público se arreda e que não resistirá à passagem do tempo.
É uma opinião, evidentemente.

4 comentários:

Filipe Vieira Nicolau disse...

O próprio TNSC não escapa à triste realidade de assistir a projectos, considerados "inovadores" e apoiados com subsídios avultados (desnecessário referir que estas experiências resultam em fracassos...). Em contrapartida, as temporadas são orçamentadas sempre a curto prazo devido à falta de verbas, em detrimento de uma programação de qualidade numa perspectiva de médio-longo prazo

LUIS BARATA disse...

O Filipe estava a referir-se desde logo ao Emmanuel Nunes, quase que aposto...
Concordo praticamente com tudo o que escreveu o João Mattos e Silva, e também com muito do que escreveu o APVasconcelos. Não há falta de artistas por cá, nem de criação, há realmente é falta de públicos.
E há também falta de mecenato, ao contrário do que se vê por essa Europa fora, o que também obriga à subsidiodependência.

Filipe Vieira Nicolau disse...

Luís, claro que acertaste. Se a oferta de ópera no nosso país fosse comparável a de outros, justificar-se-ia um projecto de Nunes desta envergadura. O compositor tem toda a legitimidade de compor obras vanguardistas. No entanto, com a falta crónica de verbas e tendo em consideração a oferta reduzida de espectáculos operáticos em Portugal, é inadmissível este apoio financeiro excessivo. É apenas uma opinião.

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com João Mattos e Silva e compreendo a posição de Filipe Vieira Nicolau.

A cultura e a educação são sempre parentes pobres do governo.
A.R.