“A segunda coisa de que lhe queria falar é a seguinte: de todos os meus livros, poucos me são indispensáveis: duas obras, porém, estão sempre ao meu alcance onde quer que me encontre. São estas a Bíblia e os livros do grande poeta dinamarquês Jens-Peter Jacobsen. A propósito: conhece as suas obras? Ser-lhe-á fácil obtê-las. Uma parte, muito bem traduzida, foi editada pela “Bibiloteca Reclam”. Veja se consegue o pequeno volume Seis Novelas e o romance Niels Lyhne. Comece pela primeira novela, intitulada Mogens. Arrebatá-lo-á um mundo – a felicidade, a riqueza, a insondável grandeza de um mundo. Viva algum tempo nestes livros, aprenda com eles o que, a meu ver, vale a pena aprender, mas, sobretudo, ame-os. Este amor ser-lhe-á mil e mil vezes retribuído e, dê a sua vida as voltas que der, atravessará, tenho a certeza, o tecido da sua alma, como fibra essencial confundida com as voltas que der, atravessará, tenho a certeza, o tecido da sua alma, como fibra essencial confundida com as das suas experiências, das suas decepções e das suas alegrias.
Se tivesse de dizer com quem aprendi alguma coisa da Natureza criadora, das suas fontes e das suas leis eternas, apenas dois nomes poderia citar: o de Jacobsen, o grande, grande poeta, e o de Augusto Rodin, esse escultor sem rival ente todos os artistas de hoje.
Que tudo lhe corra sempre bem, meu caro sr. Kappus, é o que lhe deseja do coração o seu
RAINER MARIA RILKE
Viareggio (Pisa, Itália), 5 de Abril de 1903”.
Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta: Lisboa, Contexto, 2000, p.22-23.
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