Considerações político-partidárias à parte, até porque já sabem que não é isso que me move, ontem fiquei admirado com a longevidade parlamentar de Manuel Alegre. É verdade, Manuel Alegre, que até aprecio como poeta, despediu-se ontem da Assembleia da República, onde foi deputado durante 34 anos. O pior, para mim, não são os 34 anos assim a seco, são os 34 anos que passaram sem que o nome dele tivesse alguma vez ficado associado a uma lei, ou a um projecto legislativo de monta. E só nos últimos anos, depois das presidenciais, é que se deu mais por ele nas votações quando começou a mostrar um sentido de voto próprio.
Ficará sempre a dúvida de que a "carreira" parlamentar de Alegre foi agora encerrada, não por qualquer ideal de renovação das pessoas que ocupam cargos políticos, mas sim para começar a corrida de fundo dirigida a um certo palácio cor-de-rosa...
4 comentários:
Gosto do Manuel Alegre por várias razões: gosto dele como poeta, gosto da atitude crítica dele embora, às vezes não apresente alternativas pertinentes.
Fez-me impressão, confesso...
A.R.
TUDO O QUE ONDULA
Tudo o que ondula ondula no teu corpo
a garça a flor o vinho a égua a água
ondula o barco e oa raco ondula o porto
l'aura amara e a onça ondula a mágoa
Ondula o vento a vela a onda brava
e a caravela dentro da palavra
Ondula a letra e o l ondula a lua
e a roxa violeta em tua coxa
Ondula a estrela e a nave ondula o sol
ondula a ave e o azul ondula o sul
Ondula a sílaba e a chama ondula
abril e o til a flauta a flama a ^flâmula
Ondula a seara a saia a sarça o trigo
tudo o que ondula ondula e vai contigo
Manuel Alegre
«E só nos últimos anos, depois das presidenciais, é que se deu mais por ele nas votações quando começou a mostrar um sentido de voto próprio.»
Embora em muitas coisas eu discorde dele, por acaso até acho que ele sempre pensou pela sua cabeça. Se só se deu mais por ele ultimamente foi porque a comunicação social gosta de especular sobre os dissidentes ou as dissidências, em qualquer partido.
A de cima sou eu, M.
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