Assim começava a crónica de João Pereira Coutinho publicada no Correio da Manhã de ontem, acabando a mesma dissecando aquele que é para o cronista e para mim e muita outra gente o verdadeiro "problema" de Saramago: a sua profunda intolerância. Gostei também de ouvir a conversa entre Monsenhor Carreira das Neves e o escritor na Sic-Notícias, foi bom que alguém relembrasse a Saramago as contradições em que cai frequentemente: " direito à heresia" ? Por parte de um ateu confesso? Heresia é uma coisa, ateísmo é outra como Carreira das Neves e outros têm lembrado. Apesar de tudo, foi interessante ver Saramago admitir "alguns excessos de linguagem" na obra em causa.
4 comentários:
Não costumo ler o Correio da Manhã. No entanto, confesso que o tema é aliciante. Nunca percebi nem o fanático religioso nem o fanático ateu.
Julgava, que hoje em dia, o demónio era uma figura esbatida!
Achei graça ao Saramago apanhado nas malhas da contradição...Ah...Ah...Ah...:)
Ana
Será que foi apanhado nas malhas da contradição? Primeiro é preciso ler o livro. Depois comentar. Um prosimetronista JMS disse que primeiro era necessário ler (julgo que foi num livro acerca de Salazar) e depois dizer de nossa justiça. Com Saramago e o seu Caim passa-se exactamente o mesmo. Estou a ler. Não sou um ateu estúpido, não sou admirador de Saramago (só consegui ler um livro seu até ao fim), mas estou a ler o livro para depois poder comentar. Não sou Agnóstico; sou um Gnóstico.
J.
Meu caro J., há um equívoco da sua parte: o livro é apenas uma parte da polémica, que foi crescendo para além da obra. Como deve ter reparado, Saramago fez várias apresentações do livro e deu várias conferências de imprensa e foram as suas declarações em tais actos que deram celeuma, mais do que a obra em si.
E são nessas declarações, como foi bem salientado pelo Mons.Carreira das Neves na Sic, que Saramago entra em contradição, desde logo reclamando em sua defesa um "direito à heresia" que não faz qualquer sentido vindo de um ateu. A heresia é um desvio à doutrina, uma recusa de certos princípios ou regras mas implica uma adesão ao essencial da crença, pelo que não faz qualquer sentido por parte de um ateu.Foi também na SicNotícias que ele próprio reconheceu ter-se excedido na linguagem utilizada. E se é ele que o diz...
Passando à obra em si, declaro já que não enfio a "carapuça da não leitura da obra": disse logo aqui no blogue que apenas tinha lido os excertos que saíram em jornais e revistas quando ainda não havia o livro à venda, e quando o livro foi posto à venda li mais alguns excertos e conclui que não o iria ler nem comprar.
Aquilo que li foi suficiente para fazer o meu juízo: não vou perder mais tempo nem dinheiro com este romance. Ou é preciso ler um livro todo para percebermos que não nos interessa?
Obviamente, não poderei fazer um juízo tão completo sobre a obra como espero vir a ter da sua parte.
Já agora, satisfaça-me a curiosidade: qual o gnosticismo de que é adepto? É que há vários como certamente sabe.
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