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sábado, 24 de outubro de 2009

Narciso, Gentileza

Sóror Maria do Céu nasceu em Lisboa em 1658 e faleceu em 1723. Foi abadessa no Convento da Esperança, escritora, poetisa e dramaturga barroca.

Narciso, Gentileza

Tem o Narciso tanta gentileza,
Que na fonte o rendeu sua beleza,
E hoje, porque o conte,
Há Narciso do espelho, e não da fonte,
Homem, que sem conselho,
Como dama te alinhas ao espelho,
O cristal à mulher, a ti o aço,
Abraça o que te é próprio,
Que ser homem e flor está impróprio,
Se és belo, procede de tal arte,
Que quem te vê Narciso, te olhe Marte!

Soror Maria do Céu, Enganos do Bosque, p. 205.

Soror Maria do Céu in João Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa, Das Origens aos Nossos Dias Acompanhada de uma Antologia, Empresa Nacional de Publicidade, 1955, Vol. I p.464.


2 comentários:

APS disse...

Gabo-lhe o gosto e esta procura de agulha no "palheiro"...
Para agradecer,retribuo com Soror Violante do Ceo que também acertava muitas vezes:

"...Vida que já não chega a terminar-se,/
Pois chega já de vós a dividir-se,
Ou procura vivendo consumir-se,
Ou pretende matando eternizar-se."

ana disse...

Alberto Soares,
Obrigada. Também gosto dela, do pouco que conheço.
Ana