Prosimetron

Prosimetron

sábado, 24 de outubro de 2009

PARAÍSO : 8 - No Paraíso

Passadas duas semanas sobre a fuga de Lisboa, Pedro e Carina estavam um pouco mais tranquilos no " Chalet Paraíso ", casa que fora habitação de toda a vida dos avós maternos dela. Tranquilidade que não os impedia de manterem alguns dos cuidados dos primeiros dias: Só Carina saía de casa durante o dia, designadamente para fazer as necessárias compras em Albufeira, a localidade mais próxima mas ainda assim a três quilómetros, enquanto Pedro se ia entretendo ora com o velho televisor da casa ora com a limpeza do pequeno quintal situado nas traseiras da velha moradia.
Tinha sido o telemóvel dela, já que o dele tinha sido partido em pedaços ainda durante a viagem ou não fosse Pedro um fã de filmes de acção, a permitir que sossegassem, na medida do possível dadas as circunstâncias, os pais de ambos, sempre ligando anonimamente. Telefonemas que tinham tido o mérito de evitar que os pais de Carina apresentassem uma queixa por sequestro como tinham pensado fazer logo após o desaparecimento da filha, e por outro lado dado a saber a Pedro que tinha sido procurado no bairro " por uns fulanos mal encarados que andaram a rondar aqui o prédio durante três dias, até que o teu pai disse que ia chamar a polícia ".
Disseram às respectivas famílias que estavam em Espanha, procurando emprego e obedecendo ao desejo de viverem juntos.
A relativa tranquilidade em que viviam devia-se também às certezas de Carina: a sua família só usava a casa no Verão, e tinha a certeza que os pais não se lembravam que tinha sido ela a ficar com a chave da Tia Luísa depois de esta falecer no lar da Misericórdia de Albufeira.
A pedido de Pedro, ela falara também, embora nessa ocasião a partir de uma cabine telefónica por recomendação dele, com a mãe do malogrado Quim dizendo a esta que era a namorada dele e que estavam em Espanha para fugir às más companhias. Embora Carina se tivesse oposto, Pedro achara preferível esta mentira piedosa que também lhe era favorável: se a D.Ermelinda soubesse da morte de Quim iria de certeza à Judiciária que não demoraria muito a começar a procurar os amigos do falecido, com Pedro logo à cabeça.
Morte que, apesar dos comprimidos comprados por Carina, ainda continuava a fazer com que Pedro acordasse algumas noites encharcado em suor depois de relembrar em sonho os acontecimentos vividos na Ericeira.
O momento mais alto de cada dia era quando o sol começava a desaparecer no horizonte e eles iam passear nas praias desertas do Outono algarvio como qualquer vulgar par de namorados. Caminhavam na areia de mãos dadas como se nenhuma preocupação os afligisse, embora soubessem que não poderiam ficar muito mais tempo em Albufeira.
Ainda tinham bastante dinheiro, até porque não havia muito onde gastá-lo, mas o problema era outro: No "Paraíso" a água e a electricidade eram pagas por transferência bancária, pelo que não demoraria muito, provavelmente no final do mês, até que os pais de Carina estranhassem o inusitado aumento das respectivas quantias e se pusessem a caminho do Algarve.
Pedro tentara convencê-la muitas vezes a regressar a Lisboa, argumentando com a carreira de enfermagem, com os pais e com os irmãos, esbarrando sempre na recusa dela que lhe retorquia que iria com ele fosse para onde fosse.
Era raro o dia que não acabasse com o estudo do mapa de Espanha que estava estendido no móvel que ocultava a máquina de costura da avó de Carina. Tinham já ponderado Sevilha, Marbella e outras localidades mais obscuras, todas com os respectivos prós e contras. Acabavam sempre adiando a decisão para o dia seguinte.



- Antalya e Lisboa, Outubro de 2009.

3 comentários:

MR disse...

Parabéns!

Anónimo disse...

Os mesmos votos de MR
Ana

Anónimo disse...

Gostei do final em aberto. Cheguei a temer mais sangue...

MFB