Ainda Saramago e o seu CAIM - 4

" CAIM. Li-o na noite de quinta para sexta. Pequeno, bem escrito, agradável de ler; irónico, mesmo divertido aqui e ali. Não é obra maior de Saramago, mas percorre-se com facilidade e prazer. É ficção pura. Nada de ensaio ou digressão filosófica ou teológica.
PERPLEXIDADE. Porquê tanta polémica por ficção? A não ser como lançamento. Mesmo as ideias de criticar, na Bíblia, factos inverosímeis ou de nela encontrar repositório de malfeitorias universais não resistem a um segundo de análise. A primeira crítica esquece que longe vai uma leitura literalista da Bíblia, acreditando num Adão e numa Eva, e numa maçã e numa serpente, e por aí adiante, em vez de uma leitura de símbolos, de valores e de comportamentos. A segunda crítica esquece que a Bíblia cobre o percurso da humanidade, e esse é feito de virtudes e qualidades, mas não menos, para não dizer mais, de vícios, crimes, defeitos e vícios. Omiti-los seria escrever, porventura, acerca de Deus e de deuses. Mas, não certamente da odisseia dos humanos. Isto, independentemente de se ver ou não a Bíblia como livro sagrado e como grande obra literária."

- Marcelo Rebelo de Sousa, Caim,Bíblia e outros livros, no Sol ( 30/10/2009 ).