Prosimetron

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os assassinos estão entre nós

Berlim, 1945. Susanne Wallner, libertada de um campo de concentração, regressa à capital alemã, tal como o oficial e médico, Dr. Mertens, que fora forçado a assistir a um massacre a civis inocentes na Polónia, comandado pela sua chefia na noite de 24 de Dezembro de 1942. Wallner encontra Mertens em sua casa semi-destruída. Marcada pelos horrores sofridos, retoma ainda assim a sua vida com esperança e apaixona-se por Mertens. Este, resignado e inicialmente contra uma relação com Susanne, procura o seu equilíbrio interior, até se cruzar acidentalmente com o seu antigo chefe que agora se reveste de empresário bem-sucedido. Mertens decide matá-lo…


Die Mörder sind unter uns (Os assassinos estão entre nós) ocupa um lugar determinante na história do cinema alemão por vários motivos: acima de tudo, trata-se da primeira película alemã realizada após a Segunda Guerra Mundial. O cenário não poderia ser mais realista, pois ruínas não faltavam em Berlim em 1946. O expressionismo, destacado por fortes contrastes, é assustador. Todavia, a verdadeira importância deste filme centra-se no confronto com o passado recente, ou seja, com os crimes do regime recém-derrubado, bem como na tentativa de disfarce e esquecimento por parte de ex-nazis envolvidos.

Die Mörder sind unter uns marca também o regresso de Wolfgang Staudte à Sétima Arte, desta vez na qualidade de realizador. Poucos anos antes, participara como actor no filme de propaganda Jud Süß. Staudte que viria a trabalhar na ex-RDA durante os anos cinquenta, tornou-se num dos nomes mais reconhecidos do movimento pacifista alemão e numa testemunha incómoda para aqueles que pretendiam uma continuidade incólume sem recordar o pior capítulo da História Alemã.

Hildegard Knef iniciou a sua carreira cinematográfica como leading woman nesta película. Uma das maiores actrizes alemãs do pós-guerra, viveu momentos polémicos no seu percurso, por exemplo, ao aparecer, por poucos segundos e quase invisivelmente, despida no filme Die Sünderin (A pecadora) em 1951. Coroada de algum sucesso internacional (As neves do Kilimanjaro de H. King de 1952), empenhou-se igualmente a favor de um confronto aberto, justo e sem tabus com o período do Terceiro Reich. Foi ainda amiga de Marlene Dietrich.

O ciclo “Os mil rostos de Berlim” traz este filme de volta à Cinemateca hoje às 19h (legendado em espanhol).



Imagens: Wolfgang Staudte e Hildegard Knef; Berlim 1945/46; Hildegard Knef e Marlene Dietrich, Berlim, 1960

4 comentários:

LUIS BARATA disse...

E a verdade é que muitos antigos torcionários se tornaram empresários, tanto na Alemanha como na América do Sul...
Um filme muito oportuno.

MR disse...

Este ciclo tem/tinha alguns filmes que queria ver, mas ainda não vi nenhum.

João Soares disse...

Legendado em Espanhol? Que curioso. Fiquei com curiosidade sobre o filme, vou procurá-lo.

ana disse...

Interessante o seu post.