Prosimetron

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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sobre Cartas a Olga


«Quando estava preso, imaginava que uma vez livre iria escrever sobre o tempo da prisão. Tentava gravar na memória as coisas mais interessantes e emocionantes, tudo o que era divertido e assustador ao mesmo tempo, tudo o que era estranho e significativo. Imaginava como iria descrever as situações absurdas em que me encontrei. Alegrava-me a ideia de trazer da prisão um testemunho como Hrabal fez, pitoresco e colorido, sobre destinos estranhamente complicados. Lamentava não ter podido, pelo menos, tomar umas notas rápidas num bocado de papel. Mas quando saí fui obrigado a admitir que não escreveria nada sobre o que tinha vivido na prisão. […] a vida em liberdade […] ocupa-me demasiado para que seja capaz de voltar atrás, ao universo diferente e já longínquo da prisão. […]
«A nossa correspondência serviu-lhe [ao director da prisão] de pretexto para nos aborrecer, castigar e humilhar. As suas proibições eram perfeitamente arbitrárias: tínhamos de nos limitar a assuntos relacionados com a família, não devíamos brincar porque o encarceramento era, em sua opinião, uma coisa demasiado séria para ser assim desacreditada. […] A correspondência transformou-se numa paixão. E para mim – só posso falar por mim – isso dava um sentido à minha detenção.»
Vaclav Havel
In: Interrogatório à distância. Lisboa: Inquérito, 1990, p. 124-128
Sobre o volume Cartas a Olga, no qual se encontram reunidas as cartas que Havel escreveu da prisão a Olga, sua mulher. Uma beleza de livro.

2 comentários:

LUIS BARATA disse...

As cartas de quem está preso, de quem foi condenado à morte-É um subgénero da literatura epistolar que me interessou sempre.Quantas vezes procurando consolar quem está livre...

MR disse...

Pois é! Ele escrevia umas cartas muito vivas e animadas.