Prosimetron

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domingo, 20 de junho de 2010

Verão no Prosimetron

A chegada do Verão calendário justifica uma vinheta apropriada. Compete assim a Audrey Hepburn preencher a imagem durante os próximos dias que nos mostra a actriz numa praia no Sul de França, devidamente equipada com óculos de sol extravagantes. A fotografia é extraída do filme Two for the Road de Stanley Donen – uma homenagem à vida em comum entre dois seres humanos, com os seus altos e baixos, enquadrada em belos cenários estivais, cores fortes e quentes.

Realizada em Paris e na Côte d’Azur durante o Verão de 1966, Two for the Road convida o espectador a rever os vários estados de um matrimónio. A expectável narrativa cronológica destas fases é substituída por um network complexo de associações em que os acontecimentos do passado se interligam com os do presente de forma original e quase despercebida.


No início do filme, vemos Mark Wallace (Albert Finney) e sua esposa, Joana (Audrey Hepburn), num Mercedes de topo, algures na província inglesa. Um pequeno incidente numa aldeia faz despoletar memórias do primeiro encontro entre os dois, doze anos antes, quando Mark, ao viajar no Sul de França “à boleia”, se cruza com um grupo de raparigas inglesas num minibus em direcção a Chartres. Joana, que integra esta equipa, resiste a um surto de varicela que “vitimiza” as restantes amigas, entre elas Jackie (interpretada pela super-jovem Jacqueline Bisset), que estava na iminência de uma aventura amorosa com Mark. Os dois “sobreviventes”, Joana e Mark, decidem então continuar o percurso por terras gaulesas e vivem semanas inesquecíveis de namoro.

Entretanto, e decorrida uma década, confrontamo-nos com um casal economicamente bem sucedido que tem uma filha (Caroline). Os anos esfriaram o amor inicial, e uma viagem pela França recorda os dois protagonistas de situações ora românticas, ora difíceis, ocorridas por vezes nas mesmas localidades e nas mesmas estradas. Assim, este flashback à vida matrimonial conduz-nos, por exemplo, à lua de mel em que Mark e Joana partilham uma carrinha com um casal americano intragável. O revival leva-nos também aos tempos em que os dois, financeiramente mal situados, percorrem la Douce France num MG em segunda mão que acaba por incendiar-se numa cena de peripécia encantadora. A retrospectiva conjugal introduz-nos igualmente às escapadelas extra-conjugais a que ambos não escapam... Todavia, o passado comum e a perspectiva de um novo começo nos Estados Unidos fortalecem a relação entre Mark e Joana. Parece haver um futuro.

Stanley Donen serve-se, de forma inteligente, de sinais exteriores para assinalar as diversas etapas: o guarda-roupa simples e os meios de transporte em que Mark e Joana circulam enquanto jovens, descrevem a primeira paixão e felicidade incondicional. Os vestidos e acessórios, sobretudo os óculos de sol imprescindíveis de Mme Hepburn, bem como o Triumph Herald e o Mercedes 230 simbolizam o desgaste e o enfadonho da relação em especial e do Jet Set em geral. Os dois actores dominam a versatilidade necessária na perfeição; talvez nos admiremos principalmente com uma faceta menos conhecida de Hepburn que, ao contrário dos seus papéis nos anos 50, parece concluir uma evolução, iniciada em Breakfast at Tiffany’s: descobrimos finalmente uma mulher moderna que deixa de usar Givenchy e compra numa loja de pronto-a-vestir, não se priva de aplicar uma linguagem imprópria de uma lady, e que não vê no adultério o fim do mundo, ... características que não estranharíamos numa Julie Christie ou Jeanne Moreau, mas que nos surpreendem numa Hepburn convincente.

Two for the road dispõe bem. A estrada e o bom tempo de Verão são o elo comum às diversas estações deste casal. Com todos os encantos e todas as vicissitudes que uma relação possa comportar, concluímos, graças a Donen, que vale sempre a pena “trabalhar” numa relação. Neste sentido, espero que os estimados leitores tenham a oportunidade de ver muitos filmes animadores durante as próximas semanas. A todos um excelente Verão 2010!

3 comentários:

ana disse...

Não vi este filme. O autor da vinheta está de parabéns colocou a sua marca inconfundível. :)

Vou tentar localizar este filme para o ver parece-me um bom "hino" para o Verão.

A Côte de Azur é encantadora, convida a viver alegremente e apaixonadamente.

Parabéns Filipe.

Bom domingo.

MR disse...

Não me lembro de ter visto este filme.
Uma vinheta inesperada.
Bom Verão!

LUIS BARATA disse...

Excelentes escolhas. Venha o Verão!