Roma, Museu do Vaticano
São Jerónimo e o seu leão
São Jerónimo e o seu leão
naquele eremitério
de paredes meio destruídas,
partilham o santuário para um filósofo -
moldura para o engenhoso e exaltado Jerónimo versado em línguas -
e para um leão como aquele em cuja pele
a moca de Hércules não causou qualquer dano.
A fera, recebida como hóspede,
embora alguns monges fugissem -
com a pataligada
porque um espinho do deserto a inflamar -
ficou a guardar o jumento do mosteiro...
que desapareceu, tendo alimentado
o seu guarda, presumiu Jerónimo. O hóspede, agora como um jumento,
foi forçado a carregar lenha e não se opôs,
mas, em breve, viu-se
como um jumento, e entregou
todo o cortejo
de camelos dos aterrorizados ladrões ao mortificado
São Jerónimo. A ressarcida fera e
o santo de certo modo ficaram unidos;
e desde então, visto que em tudo eram semelhantes,
oficializou-se assim o que era leonino.
Pacíficos, mas apaixonados -
pois se não fossem dois, como
poderia ele ser grande?
Jerónimo - debilitado por tudo o que tinha passado -
de cintura adelgaçada por muito que comesse,
deixou-nos a Vulgata. Na posição de Leo,
o Nilo transbordou e deu sustento pondo fim à fome,
fazendo apropriadas fontes da boca do leão,
que não existem universalmente
embora sejam conheciadas.
Aqui, quase em resumo, a astronomia
ou a descorada pintura fazem com que o precioso par
no esboço de Leonardo da Vinci pareça
queimado pelo sol. Resplandeçam sempre, quadro
santo, fera; e o leão Haile Selassié, entre leões
domésticos como símbolo de soberania.
Marianne Moore
In: Poemas de Marianne Moore e Elizabeth Bishop / trad. de Maria de Lourdes Guimarães. Porto: Campo das Letras, 1999, p. 29-30
6 comentários:
Este quadro (embora "baço", nas suas cores) e a "Senhora com arminho", de Cracóvia, são dos que me fascinam mais, de da Vinci. Tive, também, uma experiência curiosa com a "Mona Lisa" quando a vi,ao vivo, pela primeira vez, em Setembro de 1963 ou 1964 - ainda nos podiamos aproximar do quadro...
Leonardo da Vinci e a pintura de S. Jerónimo é bela.
E qual foi essa experiência face à Mona Lisa, APS? Eu também tive uma estranha sensação quando a vi em 1971: uma decepção.
Para mim não foi, MR, mas foi, no mínimo, insólita. Como só tinha 4 horas para ver o Louvre, disse para comigo: "Alberto, gastas apenas 1 minuto com a "Mona Lisa"!, porque estás farto de conhecer o quadro do da Vinci."
Pois não é que estive ali especado e hipnotizado mais de 20 minutos!...
Acrescente-se que teria 19 ou 20 anos...
Anh!? Eu também tive pouco tempo lá e fiz uma grande asneira, fui no último dia, cansadíssima, arrastava-me.
Mas tive uma grande desilusão.
Eu tinha 19 anos.
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