Prosimetron
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Melancolia
Jean-Baptiste Camille Corot (1796-1875) - La Mélancolie, 1860
Copenhague, Ny Carlsberg Glyptotek
Oh doce luz! oh lua!
Que luz suave a tua,
E como se insinua
Em alma que flutua
De engano em desengano!
Oh criação sublime!
A tua luz reprime
As tentações do crime,
E à dor que nos oprime
Abres-lhe um oceano!
É esse céu um lago,
E tu, reflexo vago
Dum sol, como o que eu trago
No seio, onde o afago,
No seio, onde o aperto?
Oh luz orfã do dia!
Que mística harmonia
Há nessa luz tão fria,
E a sombra que me guia
Neste areal deserto!
Embora as nuvens trajem
De dia outra roupagem,
O sol, de que és imagem,
Não tem essa linguagem
Que encanta, que namora!
Fita-te a gente, estuda,
(Sem medo que se iluda)
Essa linguagem muda...
O teu olhar ajuda...
E a gente sente e chora!
Ah! sempre que descrevas
A órbita que levas,
Confia-me o que escrevas
De quanto vês nas trevas,
Que a luz do sol encobre!
As vítimas, que escutas,
De traças mais astutas
Que as dessas feras brutas...
E as lástimas, as lutas
Da orfã e do pobre!
João de Deus
In: Campo de Flores
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4 comentários:
A pintura é belíssima e o poema também.
Boa tarde!:)
E mais uma Melancolia que está no Norte.
Doce melancolia...
Concordo com a Ana.
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