(...) As condições de vida impostas pelo capitalismo global estão a tornar obsoletos os discursos e práticas dos sindicatos e partidos. Surgem novas linhas de fuga que abrem fendas nos dispositivos de poder. No caso particular português, esta manifestação ilustra bem essa mutação. Apolítica, sem teorias, o seu discurso não se alimenta de ideologias e utopias, não pede felicidade em demasia, mas estabilidade e segurança. Condições básicas de uma "vida digna", recusando a mera e humilhante sobrevivência, e criticando veladamente o "sistema". É uma nova sensibilidade que está a nascer, imediatamente afetada pela injustiça social, e pela violação dos seus direitos primários. É provável que a crise suscite muitas outras manifestações atípicas, porventura violentas. Estamos perante formas de contestação insólitas, cuja violência se sente autolegitimada pela violência cega e anónima da nova ordem mundial.
José Gil, Crise e linhas de fuga, na Visão.
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