Passa hoje o 2.º centenário da morte de Nicolau Tolentino (1740-1811). Aqui fica nas «Elegâncias» um dos seus sonetos mais conhecidos, uma sátira aos penteados altos:
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
– «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»
– «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
4 comentários:
E como no Prosimetron "Elegância" também é sapatos, aqui vai mais um sobre excessos (fivelas nos sapatos):
"Em curto josèzito rebuçado,
loiro peralta na rua passeava;
seus votos pela adufa lhe aceitava
com brando riso um rosto delicado.
O pai da moça,que era ginja honrado
e o caso havia dias espreitava,
de membrudo caixeiro se escoltava,
com bengala na mão,chambre traçado.
Fugira o moço, qual ligeira pela,
se as fivelas,de marca agigantada,
deixassem navegar a nau à vela;
Mas viu uma entre esquinas encalhada:
e se ninguém comprou maior fivela,
também ninguém levou maior maçada."
Devia ter escolhido ete. :-) Obrigada!
Uma delícia! O poema que MR «postou» já conhecia (creio que estava num dos meus livros de leitura da primária), mas este, sobre sapatos, nunca tinha lido. É incrível a quantidade de palavras que não conheço! Razão tem quem afirma que o vocabulário dos falantes da língua portuguesa está cada vez mais pobre... :-(
ete = este
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