Prosimetron

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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sexta-Feira Santa

"Seria incompleto limitarmo-nos a considerar que A deposição de Van der Weyden é somente a manifestação do sentimento doloroso pela morte de Cristo através de uma imagem dramática. Pois todos os elementos que expressam o sofrimento alcançam na representação um profundo conteúdo estético. Com este ritual em torno da morte de Cristo, concebido como réplica de ritos e cerimoniais profanos, o artista desenvolve uma estética inédita de um tema dramático, mas evita que a expressão da dor retire beleza à imagem. Na composição, todas as figuras actuam como um grupo de actores, submetidos à unidade de um ritmo pré-estabelecido, em que cada personagem desempenha seu papel com uma precisão calculada e controlada: a crispação evoca passos de dança, a morte marca um compasso e um efeito sonoro, e os silêncios evocam os vazios estéticos de um dramatismo sublime, e a expressão de uma "dor contida".
A Virgem desmaiada converte a representação numa interpretação em que a pintura supera todos os conceitos habituais estabelecidos. Rogier distancia-se do registo de um acontecimento real e cria um drama, ordenando a distribuição dos papéis, a hierarquia dos protagonistas e sua forma de actuação no cenário. Trata-se de um drama, mas de um drama que representa e expressa através de formas belas, com recursos visuais eminentemente pictóricos. Os jogos de perspectivas, a ficção espacial do cenário, a ordem da composição e as proporções e a situação das figuras, a sequência e harmonia do relato, a aplicação da cor e o fundo indefinido de ouro, formam parte de uma imagem que somente pode ser alcançada a partir do género da pintura."

Tradução não literal de "El descendimiento de Van der Weyden", de Víctor Nieto Alcaide, Tf. Editores, 2003;
Imagens: detalhe do painel e painel integral "A deposição / a descida da cruz", de Rogier van der Weyden (1400 - 1464), Museu do Prado, Madrid

1 comentário:

ana disse...

Belíssimo, Filipe,
Muito belo.:)