Porto: Civilização, 2013
As primeiras receitas são sobre Londres. E o local inspirador é o Reform Club - clube fundado em 1836, em Pall Mall, e cuja sede abriu em 1841 -, onde Phileas Fogg, personagem de A volta ao mundo em 80 dias, toma as suas refeições.
«Em 1872, a casa número sete de Saville Row, Burlington Gardens [...], era habitada por Phileas Fogg, esquire. membro dos mais singulares e dignos de reparo do Reform Club de Londres [...].
«Phileas Fogg era membro do Reform Club e nada mais. [...]
«[...] Bastava-lhe um criado. Almoçando e jantando no clube a horas cronometricamente determinadas, na mesma sala, à mesma mesa, sem banquetear os colegas, sem convidar estranhos para a sua mesa, só se recolhia a casa, para se deitar. [...] Ao almoço e ao jantar eram as cozinhas, a despensa, a copa, o mercado habitual do clube, que forneciam á sua mesa os suculentos manjares, eram os criados do clube, personagens de grave aspeto, trajando casaca preta, calçando sapatos palmilhados de baetilha, que o serviam em porcelana escolhida e sobre uma preciosa toalha de linho de Saxe; eram os cristais do clube, de caprichoso modelado, que continham o seu xerez, o seu porto, o seu clarete com mistura de avenca e cinamomo; era, finalmente, o gelo do clube - trazido com imensas despesas dos lagos da América - que conservava os líquidos que ingeria em estado de agradável frescura.
«[...] No seu quarto [Passepartout] descobriu [...] um cartaz posto por cima do relógio com o programa do serviço quotidiano. Compreendia - desde as oito da manhã, hora regulamentar a que Phileas Fogg se levantava, até às onze e meia, hora a que saía para ir almoçar ao Reform Club [...].
«Phileas Fogg saíra de casa de Saville Row às onze e meia e, depois de ter posto quinhentas e cinco vezes o pé direito diante do pé esquerdo e quinhentas e setenta e seis vezes o pé esquerdo diante do pé direito chegou ao Reform Club,
vasto edifício, construído em Pall Mall, que não custou menos de três milhões.
«Phileas Fogg dirigiu-se logo para a sala de jantar, cujas
nove janelas deitavam para um jardim povoado de frondosas árvores já douradas
pelo sopro do Outono. Ali ocupou o lugar à mesa que lhe era habitual e onde o
esperava o seu talher. Compunha-se o almoço de um hors-d’oeuvre,, de peixe
cozido temperado com um molho de primeira qualidade, de rosbife em sangue
guarnecido de cogumelos, de empada recheada de pedacinhos ruibarbo e groselhas
verdes e, enfim, de um pedaço de queijo Chester – tudo acompanhado de algumas
chávenas de chá excelente, de propósito escolhido para a despensa do Reform
Club.»
Jules Verne - A volta ao mundo em 80 dias. Lisboa: Bertrand, 2010, p. 7-19. (11/17)
1841
A cozinha. Gravura de W. Radclyffe, 1841
Gravura e il. de Alphonse de Neuville (1835-1885) e Léon Benett (1838-1917)
Na noite do almoço descrito, Phileas Fogg passa o dia todo no clube. Já depois do jantar, comentando as notícias do dia e durante um jogo de whist, Phileas Fogg aposta sobre a possibilidade de se poder realizar a volta ao mundo em 80 dias. E...
Inspirando-se neste almoço, a refeição proposta no livro, é preparada por três cozinheiros: Sybil Kapoor prepara-nos Cavala
grelhada com relish de groselha;
Alexis Soyer, Ketchup de cogumelos por cima de bife mal passado; e David
Loftus, Charlotte de ruibarbo com groselha. Eis a ementa do almoço londrino
deste livro.
3 comentários:
O chá para acompanhar o bife é que eu dispensava, absolutamente...
Bom dia!
So English!... :)
Bom dia!
Achei muito interessante, deve ser giro este livro.
Boa viagem gastronómica.:))
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