Prosimetron

Prosimetron

quarta-feira, 3 de junho de 2009

60 anos de uma nação: 1966

A imprensa cor-de-rosa delicia-se com um dos casamentos do ano: o playboy e herdeiro millionário alemão Gunter Sachs e o ídolo Brigitte Bardot casam em Las Vegas a 14 de Julho. A cerimónia dura apenas oito minutos, os noivos aparecem em guarda-roupa informal. Sachs inicia as segundas núpcias, Bardot tenta a felicidade conjugal pela terceira vez. A relação duraria apenas três anos.

O padre protestante Wilhelm Reinmuth considera o novo método contraceptivo, a pílula, uma dádiva de Deus. Tais palavras são dificilmente aceitáveis na hierarquia protestante alemã, pelo que Reinmuth é suspenso do serviço sacerdotal. O incidente reflecte a mudança na sociedade alemã: barreiras e padrões morais da era Adenauer são cada vez mais questionados. Inicia-se um debate público sobre a libertação de velhos (pré-) conceitos, a revolução sexual caminha imparavelmente para o seu clímax na segunda metade desta década.

A Áustria vence a 11ª edição do Festival Eurovisão da Canção no Luxemburgo. Merci Chérie, título vencedor composto e interpretado por Udo Jürgens, conquista também a Alemanha. Jürgens inicia uma carreira notável na Alemanha que viria a durar até aos dias de hoje.

Os Beatles em digressão pela Alemanha: a loucura é indescritível, os desmaios das fãs inquantificáveis. Os Fab Four actuam em Munique, Essen e, por fim, em Hamburgo onde, cinco anos antes, iniciaram a sua carreira no célebre Star-Club e para onde voltam como vedetas absolutas.

A Alemanha Ocidental assiste, pela primeira vez desde 1949, a um abrandamento da economia: o PIB cresce “apenas” 2,8 % em 1966, o desemprego regista um aumento de 2,2%. Redução do investimento público e privado, bem como uma saturação no mercado de consumo originam estas taxas que, à luz dos valores de anos anteriores, significam a primeira recessão do pós-guerra. Instala-se também uma crise política. Ludwig Erhard, chanceler e pai do “milagre económico” (Wirtschaftswunder), demite-se do cargo e é substituído por Kurt Georg Kiesinger do partido conservador CDU. Cabe a Kiesinger dirigir a chamada “grande coligação” (Grosse Koalition), ou seja a coligação entre os dois grandes partidos populares, os Conservadores (CDU) e os Sociais-Democratas (SPD). A oposição compete ao partido neo-liberal (FDP) de pouca expressão no parlamento alemão (Bundestag). Cresce o cepticismo público quanto ao bom funcionamento da democracia parlamentar. Rudi Dutschke, líder estudantil, cria uma oposição extra-parlamentar que viria a ter uma intervenção significativa nas revoltas nos dois anos seguintes. A contestação atinge também Kiesinger que foi membro do partido (único) durante o regime de Hitler, a NSDAP.

Imagens: Brigitte Bardot e Gunter Sachs; cena do filme "Das Wunder der Liebe" (O milagre do amor), um clássico dos anos 60 da autoria de Oswalt Kolle que, numa abordagem soft, elucida os alemães sobre a sua sexualidade; Udo Jürgens; os Beatles em Munique; Kurt Georg Kiesinger (Francis Miller, LIFE)

3 comentários:

Anónimo disse...

Aprendi coisas novas como o vencedor do Festival da Eurovisão e a atitude do padre protestante em relação ao contraceptvo.

Relembra sempre coisas que estão adormecidas. Tem sido um bom reavivar das memórias.
A.R.

MR disse...

Lembro-me bem do Udo Jürgens.
M.

Miss Tolstoi disse...

O homem das motas SACHS. Ainda existem?