Prosimetron

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terça-feira, 2 de junho de 2009

Um livro, ao acaso.

Passei pela FNAC. "Caíu-me" nas mãos um livro que desconhecia por completo. O autor Salomó Dori - um pseudónimo colectivo para cinco autores, o oposto dos heterónimos de Pessoa - escreveu cinco narrações eróticas acerca de Fernando Pessoa (ou dos seus vários eus). O livro chama-se: A vida sexual de Fernando Pessoa.
Escrito como uma compilação de textos autobiográficos - que teoricamente aqui se dão a conhecer (pois que "até agora surpreendentemente inéditos em Portugal") - é um livro onde Freud encontraria a justificação para o pouco do que se conhece da vida sexual de Pessoa.
Alguns passos são mais do que eróticos...

A partir da frase a visão inopinada da imprudência de minha mãe fez-me provar de um trago a náusea do prazer sexual, na pena de um dos heterónimos, surge-nos o texto de Alexander Search: "Athens (Visão sacrílega duma pachacha plural)" (pp. 93-112)
Transcrevo apenas três parágrafos, o primeiro, um no meio e o último :
Lisboa, 26 de Outubro de 1907: Até àquela passagem de ano não soube que Maria Madalena Pinheiro Nogueira era, além de minha mãe, uma mulher. E soube-o numa noite da Ano Novo, como digo, entre as quatro e as quatro e quatro minutos da madrugada, muito perto da ilha de São Fernando, em pleno Atlântico tropical.
[...]
Afastou-se do criado e nesse momento dei-me conta do seu membro gigantesco. Talvez na realidade não fosse tão gigantesco como me pareceu então mas, visto com os olhos dos dez anos, e sobretudo naquelas circunstâncias, há que compreender que de facto resultasse para mim uma coisa verdadeiramente desmesurada. O criado tinha o pavio tão aceso que lhe chegava ao umbigo. A ponta vermelha palpitava com os golpes de sangue da excitação e eu assistia boquiaberto a toda aquela manifestação de fenómenos físicos que, há que reconhecê-lo, me impressionaram profundamente. E aquilo ainda não era nada, pelo que havia de vir.
[...]
Seguia pela rua e pensei em minha mãe, pensei nela, em Maria e em Madalena, em Mariamadalena, e no mistério que fazia com que uma vezes fosse Maria, e outras Madalena.

Um livro devorado em algumas horas, ao fim da noite, no "escritório"...

6 comentários:

Anónimo disse...

No escritório, ao fresquinho...
Quero ler!
M.

LUIS BARATA disse...

Fico à espera da reacção dos "pessoanos"... Muito se riria Mário Cesariny ao ler estes textos, ou não tivesse ele escrito esse texto tão interessante que dá pelo nome de "Fernando Pessoa ou o Virgem Negra" ...

Anónimo disse...

Mas 35 anos tinha escrito um dos mais belos poemas portugueses: Em louvor e simplificação de Álvaro de Campos.
Esse Fernando Pessoa explicado às criancinhas (que criancinhas!!!) não é uma grande poesia. Ou o Luís acha que sim?
Para mim, o FP, e principalmente o Álvaro de Campos, é apenas um grande escritor. Mais nada! É uma estranha personagem. Mas quem conviveu com ele tem outra ideia.
M.
M.

Miss Tolstoi disse...

Hei-de lê-lo!

Miss Tolstoi disse...

A obra do Pessoa já chega para nos desassossegar, não é?

LUIS BARATA disse...

Para mim, Pessoa é um gigante. Grande poeta como todos estamos de acordo, mas muito mais do que isso, pois também o considero como ensaísta e pensador. E concordo com a M, foi uma estranha personagem- basta pensar no interesse pelo ocultismo/ esoterismo, a correspondência com A.Crowley, a macacada na Boca do Inferno etc.