Dom Sébastien, roi de Portugal ocupa um lugar de destaque no repertório de Gaetano Donizetti: a 71ª ópera seria, no entender do compositor, uma obra de referência, ao constituir um equilíbrio inovador entre a ópera séria italiana e a grand- opéra francesa e ao concorrer com o espólio artístico de Giacomo Meyerbeer, autor dominante na época. Dom Sébastien, ainda que menos conhecida, viria de facto a orgulhar-se desse estatuto na história operática. Mas viria também a ser a última ópera do compositor de Bergamo, vítima de uma infecção sifilítica que o conduziria à demência, paralisia e à morte.
Tal ambição requeria uma narrativa bem “recheada” de ingredientes dramáticos, lendários e românticos. E o mito em torno de D. Sebastião cumpria todas essas premissas. No entanto, a lenda que conhecemos (e veneramos…) foi alterada, para não dizer adulterada. A Eugène Scribe o devemos (terceira imagem). Pois o principal libretista da Opéra de Paris nas décadas de 1830 e 1840 baseou-se no drama Dom Sébastien de Portugal de Paul-Henri Foucher que subira ao palco do Teatro de la Porte Saint-Martin em Paris em 1838 com enorme sucesso. Anote-se que o fascínio de Scribe pela História de Portugal não se limitou a Dom Sébastien, roi de Portugal. Em 1865, estreou-se a ópera L’Africaine sobre a vida de Vasco da Gama, da autoria musical de Meyerbeer que recorreu ao libreto de Scribe.
Voltando a D. Sebastião. Do trabalho do trio Foucher, Scribe e Donizetti, resultou um herói muito imaginado e fantasiado: o protagonista nunca morreu – até aqui, nada de novo, todos nós acreditamos na imortalidade do Desejado. Regressa a Portugal disfarçado e infeliz, muito infeliz, pois a sua amada Zayda, perdidamente apaixonada pelo nosso rei, é mulher do seu adversário de Marrocos, Abayaldos. D. Sebastião reencontra Camões próximo da Sé de Lisboa, e, juntamente com seu leal amigo, assiste ao cortejo do seu próprio funeral. Revela então a sua identidade e é acusado de traição pelo Grande Inquisidor Dom Juam de Sylva. Zayda declara o seu amor por D. Sebastião, e ambos são condenados à morte, enquanto o Grande Inquisidor prossegue com as suas aspirações de entregar Portugal a Filipe II. Num último acto audacioso, volta Camões em cena, ao preparar a fuga de Sebastião e Zayda. A tentativa falha, quando Abayaldos apanha os três protagonistas. Sebastião e Zayda morrem, e Camões não resiste aos ferimentos no preciso momento em que Filipe II é declarado rei de Portugal.
O drama e uma musicalidade viva, à altura do libreto, garantiram de facto um enorme sucesso em 1843. Quer em Paris, quer em Viena, Dom Sébastien foi aclamado pelos críticos e pelo público.
O drama e uma musicalidade viva, à altura do libreto, garantiram de facto um enorme sucesso em 1843. Quer em Paris, quer em Viena, Dom Sébastien foi aclamado pelos críticos e pelo público.
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2 comentários:
Ontem de manhã, fiquei convencido que ele voltaria tal era a neblina que cobria Lisboa.
Adorei o seu post. Em todas as manhãs de nevoeiro espero por D. Sebastião. Sorrir!:)
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