Uma jovem morre em Estrasburgo, França. Ontem, um jornal lisboeta dá a notícia e, na sua caixa de comentários, uma leitora dá opinião: "Que pena! Condolências à família. Não acredito no suicídio!" Gostamos muito de dizer coisas. Mas era bom é que esse gosto, assumidamente irrelevante, não passasse do café e das caixas de comentários. Na Suíça, essa irrelevância subiu aos gabinetes ministeriais graças a um referendo. O Sr. Eleutério, lá de Friburgo, e a D. Aurélia, lá de Lucerna, reuniram 57% de bitaiteiros e decidiram que as mesquitas na Suíça não podem ter minaretes. E é assim que a Constituição suíça, que defende a liberdade religiosa, ganhou um aparte: sim, toda a liberdade religiosa, menos minaretes nas mesquitas. É o que dá referendar a torto e direito: torpedeia-se a democracia (esta é o povo a escolher o governo e o governo eleito a governar). Povo a governar não é democracia, é bitaitar, na melhor das hipóteses, e, na pior, são ignomínias à maneira suíça. Amanhã, se der aos suíços para referendar que os imigrantes portugueses têm de andar com um "P" na testa, é melhor não confiar no art. 7.º da Constituição Suíça. Este diz: "A dignidade humana deve ser respeitada e protegida." Mas nada me diz que 57% de imbecis não queiram fazer um acrescento.
(Diário de Notícias, Lisboa, 30 Nov. 2009)
Tive de transcrever, por variadas razões.
(Diário de Notícias, Lisboa, 30 Nov. 2009)
Tive de transcrever, por variadas razões.
1 comentário:
Achei esta crónica sobre "o bitatar" uma pequena pérola ou uma fábula da actualidade. Todos acham que tem direito a "bitatar" e a dizer, a torto e direito (porque é democrático (será?)) aquilo que lhe vai na alma, ou na fraca mioleira.
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