Roma, 23 de Dezembro de 1903
Meu caro Senhor Kappus,
Não ficará sem uma saudação minha, agora que o Natal se aproxima e que a sua solidão, em dias de festa, começará a pesar-lhe. Mas se notar que ela é grande, alegre-se, pois o que seria uma solidão (faça esta pergunta a si mesmo) sem grandeza? Há apenas uma solidão, que é grande e difícil de suportar, e quase todos conhecem a hora em que gostariam de a trocar por uma qualquer convivência, por mais vulgar e fácil, por uma aparência de harmonia mínima com o mais inferior, com o mais indigno... Mas é talvez nestas horas que a solidão cresce; porque este crescimento é doloroso como o crescimento da criança triste como o princípio da Primavera. Mas não se deixe perder. Só a solidão é necessária, uma grande solidão interior. Entrar dentro de si estar com ninguém horas a fio - tem de ser capaz disso. Estar só como em crianças estávamos sós, quando os adultos cirandavam por aqui e por ali, enredados em coisas que pareciam grandes e importantes porque os adultos pareciam tão ocupados e porque nada sabiamos dos seus afazeres.
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Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta, (trad. Isabel Castro Silva),Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2008, p. 49-50.
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