Prosimetron
domingo, 17 de outubro de 2010
A festa do silêncio
Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
António Ramos Rosa
De Volante Verde (1986). In: A mão de água e a mão de fogo. Coimbra: Fora do Texto, 1987, p. 231
Depois de ter visto no Arpose que António Ramos Rosa faz hoje 86 anos. Parabéns!
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3 comentários:
Uma belíssima escolha, MR.
Gosto muito de António Ramos Rosa, li-o há uns anos, quando andava na Faculdade.
Já há um tempito que não o visito mas gosto imenso deste poema!
Bom dia!:)
Não sabia do aniversário.
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