Prosimetron
segunda-feira, 21 de março de 2011
À Primavera
Alegoria à Primavera
Pintura proveniente da antiga Stabiae.
Nápoles, Museu Arqueológico Nacional
Quem de noite soltava essa turva serpente
que os puros calcanhares das Musas perseguia?
Era Abril, era Maio, era o raio de um vento,
filtrado pelo mar, com disfarces de brisa…
Era o grande impostor, o meigo proxeneta
que em cada ano exibe a jovem Primavera:
dos reinos infernais três meses a ausenta,
e a cúpida avidez dos homens a entrega.
Que virás cá fazer, que nos atormente,
de ramos coroada, ó rameira sagradal!?
Mas quando o Sol te doura ou a Lua te enfeita
(nos cabelos da noite, a madeixa de prata…),
Já nem sei se hei-de amar-te ou crivar-te de pragas,
ó verde confusão que os músculos me rasgas!
David Mourão-Ferreira
In: Obra poética: 1948-1988. 5.ª ed. Lisboa: Presença, 2006, p. 89-90
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2 comentários:
Tudo muito belo, MR!
Que maravilhosa Primavera.
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