Paris: Gallimard, 2003
Na capa, foto de León Blum em Buchenwald.
Em 15 set. 1940, Blum é preso pela polícia de Vichy e encarcerado no castelo de Chazeron: «A prisão faltava à minha experiência de vida e a providência aprontou-a.» (Mémoires, 1955) Foi preso enquanto os alemães assaltaram e esvaziaram a sua casa parisiense, no quai Bourbon.
Em 8 out. 1940 Blum é acusado por Vichy de crimes e delitos no exercício da sua função de primeiro-ministro da Frente Popular e de culpa no desencadear da guerra. Foi o processo de Riom, em que os acusados acabam por, nas suas defesas (casos mais relevantes: Blum e Daladier), passar a acusadores do regime de Vichy.
Em meados de novembro, Blum é transferido para Bourrassol perto de Riom, onde o antigo primeiro-ministro recebe muitas visitas de familiares e amigos. Em out. 1941 é transferido para o forte de Portalet, perto da fronteira espanhola.
De fev. 1943 (um ano depois do processo de Riom) a abril 1945, Léon Blum, acompanhado de sua mulher Janot, é 'deportado' para Buchenwald. Na verdade, é 'internado' numa pequena casa florestal, separada por poucos metros do campo de concentração. Também Georges Mandel, adversário político de Léon Blum e da Frente Popular, é instalado na mesma casa. Uma boa amizade vai unir estes dois compagnons, democratas, então obrigados a conviver. Quatorze meses mais tarde, a Gestapo vai buscar Mandel a esta casa e assassiná-lo na floresta de Fontainebleau.
O horror do campo, Blum e Janot só o vão descobrir quando se forem embora, apesar de por vezes sentirem um cheiro nauseabundo.
O campo de Buchenwald foi construído perto de Weimar, onde Goethe escreveu Conversas com Eckerrmann. A primeira obra de Léon Blum, saída em 1901, tem por título Nouvelles conversations de Goethe avec Eckermann.
Este livro é constituído pelas cartas que Blum escreveu ao seu filho Robert, prisioneiro em Lübeck. Cartas, obviamente autocensuradas, em que Blum conta as banalidades do seu dia a dia, principalmente as muitas leituras que vai fazendo («Je continue à lire, de façon assez vagabonde»), dá notícias sobre a nora Renée (a viver entre Paris e Riom) e a neta Catherine (que se encontra na Suíça), informa sobre a música que vai ouvindo e os pequenos passeios que faz junto da casa.
Registei duas apreciações que ele faz, uma sobre Rousseau («j'ai repris les Confessions de Rousseau, que j'admire e qui m'irritent») e sobre as Confissões de Santo Agostinho («livre étonnant»). Também eu gosto de Rousseau, mas a sua misoginia irrita-me e fiquei imensamente surpreendida com os livros de Santos Agostinho, tanto com as Confissões como com A Cidade de Deus.
Este livro vem dar a conhecer algo (o possível) sobre um período de que Blum nunca falou até à sua morte, em 1950.
Sou grande admiradora de Blum e já encomendei mais dois livros dele, que finalmente parece que estão a ser reeditados. Esperemos que cheguem em breve.
Rumpelmayer no 226, rue Rivoli (onde atualmente se encontra a sala de chá Angelina)
Em 13 jan. 1944, Léon Blum escreve ao filho Robert:
«Meu querido filho, calculo que, com os atrasos habituais, estas palavras te cheguem mais ou menos pelo teu aniversário [10 fev.]. Suponho (ou melhor, imagino) que tudo se passa em conformidade com o habitual, saí de manhã para ir ao Rumpelmayer comprar os marrons glacés e para escolher gravatas no Tremlett, depois fui almoçar à Cidade Universitária. Imagina que esses menus te estão a ser mostrados...»
5 comentários:
Quanta ignorância da minha parte relativamente a Léon Blum.
Também nunca li As Confissões...
Obrigada por divulgar.
🌞Um bom dia!
Li várias biografias dele. Admiro-o imenso.
Bom dia! (Por aqui nublado e fresco.)
Gosto bastante de ler cartas:). Não li nada de Blum. Também não aprecio grandemente Rousseau. Mas Santo Agostinho agrada-me mais agora que quando o li há mais de 40 anos:).
Li Santo Agostinho, pela primeira vez, há 50 anos na Faculdade e gostei bastante porque foi uma surpresa. Aqui há anos, voltei a ler as Confissões e partes de A Cidade de Deus, numa trad. francesa.
Como eu disse, gosto de Rousseau, mas tem 'coisas' que me irritam.
Boa noite!
O Governo da Frente Popular foi o primeiro que teve uma pasta dedicada aos direitos das mulheres. Primeiro e único em muitos anos.
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