Veneza continua a ser um palco e um cenário mesmo sem o Carnaval
Fotografia de Pedro Chico.
VENEZA
Prólogo de uma peça de teatro
Esta história aconteceu
Num país chamado Itália
Na cidade de Veneza
Que é sobre a água construída
E de noite e dia se mira
Sobre a água reflectida.
Suas ruas são canais
Onde sempre gondoleiros
Vão guiando barcas negras
Em Veneza tudo é belo
Tudo rebrilha e cintila
Há quatro cavalos gregos
Sobre o frontão de S. Marcos
E a ponte do Rialto
Desenha aéreo o seu arco
Em Veneza tudo existe
Pois é senhora do mar
Dos quatro cantos do mundo
Os navios carregados
Desembarcam no seu cais
Sedas tapetes brocados
Pérolas rubis corais
Colares anéis e pulseiras
E perfumes orientais
Cidade é de mercadores
E também de apaixonados
Sempre perdidos de amores
E cada dia ali chegam
Persas judeus e romanos
Franceses e florentinos
Artistas e bailarinos
E ladrões e cavaleiros
Aqui só há uma sombra
As prisões da Signoria
E os esbirros do doge
Que espiam a noite e o dia
De resto em Veneza há só
Dança canções fantasia
Cada ano aqui se tecem
Histórias variadas
Que às vezes até parecem
Aventuras inventadas
Por isso sempre digo
Que Veneza é como aquela
Cidade de Alexandria
Onde há sol à meia-noite
E há lua ao meio-dia *
* Os últimos três versos são de tradição popular.
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Búzio de Cós e outros poemas, Lisboa: Caminho, 1997, p.35-36
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