Ode Marítima
(…)
Ergue-se uma leve brisa marítima dentro de mim.
Às vezes ela cantava a «Nau Catrineta»:
Lá vai a Nau Catrineta
Por sobre as águas do mar…
E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a «a Bela Infanta» … Relembro, e a pobre velha ergue-se dentro
de mim
E lembra-me que pouco me lembrei dela, depois, e ela amava-me
Tanto!
Como fui ingrato para ela – e afinal que fiz eu da vida?
Era a «Bela Infanta»… Eu fechava os olhos, e ela cantava:
Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada…
Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.
Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada,
Seu pente de ouro na mão,
Seus cabelos penteava…
Ó meu passado de infância, boneco que me partiram!
Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela afeição,
E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente!
(…)
Fernando Pessoa, Poesia de Álvaro de Campos, Lisboa: Planeta DeAgostini, 2002, p.85-86.
(…)
Ergue-se uma leve brisa marítima dentro de mim.
Às vezes ela cantava a «Nau Catrineta»:
Lá vai a Nau Catrineta
Por sobre as águas do mar…
E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a «a Bela Infanta» … Relembro, e a pobre velha ergue-se dentro
de mim
E lembra-me que pouco me lembrei dela, depois, e ela amava-me
Tanto!
Como fui ingrato para ela – e afinal que fiz eu da vida?
Era a «Bela Infanta»… Eu fechava os olhos, e ela cantava:
Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada…
Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.
Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada,
Seu pente de ouro na mão,
Seus cabelos penteava…
Ó meu passado de infância, boneco que me partiram!
Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela afeição,
E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente!
(…)
Fernando Pessoa, Poesia de Álvaro de Campos, Lisboa: Planeta DeAgostini, 2002, p.85-86.
Sem comentários:
Enviar um comentário