Prosimetron

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sábado, 21 de março de 2009

Dia da Poesia I - Ode Marítima, Álvaro de Campos.

Ode Marítima

(…)

Ergue-se uma leve brisa marítima dentro de mim.
Às vezes ela cantava a «Nau Catrineta»:

Lá vai a Nau Catrineta
Por sobre as águas do mar…

E outras vezes, numa melodia muito saudosa e tão medieval,
Era a «a Bela Infanta» … Relembro, e a pobre velha ergue-se dentro
de mim
E lembra-me que pouco me lembrei dela, depois, e ela amava-me
Tanto!
Como fui ingrato para ela – e afinal que fiz eu da vida?
Era a «Bela Infanta»… Eu fechava os olhos, e ela cantava:

Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada…


Eu abria um pouco os olhos e via a janela cheia de luar
E depois fechava os olhos outra vez, e em tudo isto era feliz.

Estando a Bela Infanta
No seu jardim assentada,
Seu pente de ouro na mão,
Seus cabelos penteava…

Ó meu passado de infância, boneco que me partiram!

Não poder viajar para o passado, para aquela casa e aquela afeição,
E ficar lá sempre, sempre criança e sempre contente!

(…)

Fernando Pessoa, Poesia de Álvaro de Campos, Lisboa: Planeta DeAgostini, 2002, p.85-86.

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